Título: Na trilha da Cemig, Copasa quer crescer fora de Minas Gerais
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Empresas, p. B6

A Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais (Copasa) busca oportunidades para crescer fora das fronteiras do estado. Está de olho nas licitações abertas por cidades com mais de 15 mil habitantes. Mas quer mesmo é dar um salto ainda maior: comprar ativos em outros estados, sozinha ou em parceria com um sócio. "Das 27 estatais de saneamento básico, apenas seis dão lucro", afirma o presidente, Márcio Nunes. "O saneamento vai passar por um processo que já ocorreu com a energia elétrica, com redução do número de empresas neste mercado."

Nunes está convencido de que muitas estatais de saneamento serão privatizadas nos próximos quatro anos pelos governadores que se elegerem para o próximo mandato. É para oportunidades deste tipo, diz ele, que está preparando a empresa. A Copasa é a segunda estatal mineira que define como plano estratégico adquirir ativos fora de Minas Gerais. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) vem comprando ativos fora do estado e atualmente é uma das sócias da Light, distribuidora de energia no Rio de Janeiro.

A Copasa, que hoje fala em disputar processos de privatização, é uma empresa muito diferente daquela que Nunes assumiu em 2003. A empresa equacionou seu endividamento, ganhou novas concessões no estado, começou a dar lucro e abriu o capital, passando a negociar ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Agora, vai investir R$ 10 milhões para entrar num novo segmento: comercialização de água mineral. "É um negócio pequeno para a Copasa, mas de alta rentabilidade", diz o presidente.

Segundo ele, a rentabilidade do negócio de água mineral deverá ser de 20% maior do que a rentabilidade no saneamento básico. A Copasa passará a comercializar as marcas Caxambu, Cambuquira e Araxá, de fontes das estâncias hidrominerais, disputando o mercado com a Nestlé, que comercializa a marca São Lourenço.

A Copasa ficou com o negócio de água mineral depois que não houve interessados na licitação aberta pelo governo estadual. Foi uma grande sorte, na avaliação do presidente. Segundo ele, a empresa quis disputar a licitação mas, por ser estatal, não pôde entrar no processo.

Está tudo preparado para comercialização, incluindo o planejamento de marketing. Mas para começar a estatal terá de esperar a autorização da assembléia legislativa do estado para criar uma empresa independente para fazer a venda da água. O PT, oposição no estado, conseguiu atrasar a votação. "Passada a eleição, não vai demorar a assembléia autorizar", aposta o presidente.

Os planos de expansão da Copasa, explica Nunes, resultam de uma reviravolta na cultura da empresa, que incluiu mudanças radicais também na gestão de pessoal. Os 10,8 mil funcionários da estatal trabalham agora sob regime de remuneração variável, com salário mensal atrelado ao desempenho.

Hoje, 17% da remuneração está condicionada ao cumprimento de metas trimestrais. A partir de 2007, a margem variável chegará a 20%, conforme acertado no acordo coletivo da Copasa e com os sindicatos de trabalhadores do setor. "É um acordo que vale por dois anos, inédito no setor, e demonstra a confiança dos trabalhadores no modelo de gestão da empresa", afirma o presidente.

Na semana passada, o conselho de administração da empresa deu autorização para a Copasa recomprar até 10% das ações que estão no mercado. A medida, garante Nunes, é apenas um mecanismo de segurança caso a cotação atinja níveis considerados inaceitáveis pela companhia. As ações foram colocadas no mercado a R$ 23,50. Hoje, estão cotadas em torno de R$ 20,50. "O valor não reflete a realidade da empresa", afirma o executivo.

A Copasa está disposta a recomprar se perceber especulação negativa no mercado. Nunes, entretanto, acredita que a tendência atual é de recuperação e não de queda. De acordo com a direção da empresa, na última divulgação de resultados, cresceu muito o interesse dos analistas de mercado pela performance da estatal mineira. Hoje, a Copasa tem 609 concessões de água e 175 de esgoto, 10% mais do que tinha há um ano.