Título: Juro menor obriga fundos a buscar maior rentabilidade
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Finanças, p. C3

A manutenção da queda dos juros trará novos desafios para os fundos de pensão, entidades que aplicam mais de R$ 310 bilhões, em títulos do governo, ações e imóveis. Um estudo da Mercer Investment Consulting mostra que a rentabilidade média anual dos fundos vem caindo e a dificuldade para superar os referenciais da renda fixa é cada vez maior. No segundo trimestre do ano, nenhum conseguiu. Já na renda variável, é o oposto. As aplicações vêm superando com folga os principais índices da bolsa.

"Para conseguir rentabilidade melhor, os fundos terão que assumir maior risco", afiram Thyrso Pizzoferrato, responsável pelo estudo da Mercer, que analisou as carteiras de 59 fundações.

Os juros reais ainda elevados, avalia, devem continuar favorecendo a alocação de "parte" da carteira em títulos indexados à Selic ou ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). "Mas em níveis bem inferiores aos observados atualmente", destaca.

Durante muito tempo, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), atreladas à Selic, ofereceram para os fundos o melhor dos mundos: baixo risco, ganhos altos e liquidez elevada. Com a queda dos juros básicos, o estudo da Mercer conclui que essa estratégia, que se mostrou acertada por um longo período, terá que mudar.

Para buscar retornos maiores, a tendência das fundações será aumentar a compra de títulos privados, comprar mais ações e reduzir a carteira de renda fixa. Nos Estados Unidos, cerca de 60% das aplicações dos fundos estão em ações. Deste total, 17% estão em ações de empresas estrangeiras.

Nos títulos públicos, que respondem em média por 85% das aplicações dos fundos de pensão analisados pela Mercer, a tendência é ter mais papéis prefixados e atrelados a índices de preços. Fundos de recebíveis e multimercados também são opção.

No primeiro semestre, o resultado dos fundos foi bom, apesar da queda da bolsa no segundo trimestre. No geral, as aplicações dos fundos renderam 8,41%, o dobro da meta atuarial. A carteira de renda fixa rendeu 7,54%, abaixo do CDI (7,76%) e da Selic (7,78%).

Já o retorno da renda variável foi de 15,83%, superando a variação do índice IBrX 100 (10,62%) e do Ibovespa (10,24%). No segundo trimestre, 85% dos fundos superaram a variação dos índices de ações. Na renda fixa, nenhuma fundação superou (ver tabela). Fato que nunca havia acontecido, segundo Pizzoferrato.

Neste cenário de queda dos juros, outra tendência dos fundos de pensão deve ser a revisão dos referenciais, principalmente para a renda fixa. Os mais usados hoje são o CDI e a Selic. O estudo da Mercer aponta que indicadores, como o Índice de Mercado Andima (IMA), que refletem a variação de diferentes títulos públicos, podem ser uma opção para as fundações.

Enquanto não mudam os bechmarks, os fundos já vêm alterando suas metas atuariais. Muitos trocaram o IGP-DI, que sempre é afetado pelas variações do dólar, pelo INPC. Uma pesquisa da Mercer com mais de 100 fundos de pensão concluiu que metade deles já usa o INPC.

Para os próximos meses, a expectativa é de um retorno menor na renda fixa, segundo levantamento da Mercer com gestores dos fundos feito entre os dias 10 e 14 de agosto. Para 2007, as apostas são de que a Selic fique em 13,5%, na média. Nos últimos 12 meses encerrados em julho, ela ficou em 17,4%. Já o IBrX deve ficar na média em 22,6%, também abaixo do que ficou nos 12 meses anteriores a julho (47,8%). "Os gestores indicam que os próximos anos não serão tão favoráveis com foram os últimos", diz Pizzoferrato.