Título: Empresários ibero-americanos pedem estabilidade jurídica para seus negócios
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Brasil, p. A2

Empresários dos 22 países que integram a Comunidade Ibero-Americana de Nações vão levar aos presidentes desses países uma mensagem bem clara: querem estabilidade jurídica, cumprimento de contratos, financiamento aos investimentos e estabilidade macroeconômica.

O recado aponta para medidas hostis às empresas privadas, como estatizações, controles de preços e exportações, dificuldades para abrir e fechar empresas, além da falta de recursos para financiamento de investimentos, explica Roberto Villamil, secretário-geral da Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU), que faz parte do grupo organizador do encontro de empresários, junto com a Câmara de Comércio e a Associação Rural do Uruguai.

O documento será preparado durante o 2º Encontro Empresarial Ibero-Americano, uma espécie de "cúpula paralela" à 16ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo que começa sexta-feira em Montevidéu, Uruguai. O encontro de empresários será dias 1º e 2 de novembro, no Hotel Conrad, em Punta del Leste, balneário que fica a cerca de 180 quilômetros da capital uruguaia, e está sendo precedido de uma reunião de presidentes de entidades empresariais, reunidos desde ontem no mesmo local.

Já estão inscritos 157 empresários e executivos, entre eles pesos-pesados como o mexicano Carlos Slim. Pelo Brasil estarão Eduardo Navarro, da Telefônica, Marcelo Bahia Odebrecht, do Grupo Odebrecht, o presidente do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Alberto Pfeifer, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, o economista do Bradesco Octavio de Barros e o presidente da Serasa, Elcio Anibal de Lucca.

"O que os empresários demandam é estabilidade das regras do jogo", afirma Villamil. Segundo ele, a intenção é abrir um debate sobre até quando vai durar a bonança de um cenário macroeconômico internacional que tem ajudado os países em desenvolvimento - a maioria dos que fazem parte da comunidade ibero-americana - a quitar suas dívidas e promover um elevado crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) médio de 4,3%.

A boa fase da economia internacional tem neutralizado, de certa forma, os efeitos de um ambiente doméstico nem sempre muito amigável aos negócios, o que, por sua vez, vem sendo revelado nas pesquisas de organismos multilaterais sobre os melhores e piores lugares para os empreendimentos. "Os Estados têm que ser mais eficientes, com uma burocracia que funcione e propicie condições iguais às que se vê nos países desenvolvidos, concorrentes nossos, e que sempre lideram os rankings de melhor ambiente para negócios", diz o executivo.

O tema da 16ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado este ano é migrações, mas o encontro é visto como uma oportunidade para reuniões bilaterais e discussão dos temas mais candentes da região. Segundo um funcionário do Itamaraty que participa da organização do evento, os presidentes deverão assinar três documentos no fim da cúpula: uma Declaração de Montevidéu, que repete princípios básicos de compromisso como não intervenção, determinação dos povos etc; uma Carta Cultural, com medidas para aplicação prática das convenções da Unesco sobre valorização da cultura como instrumento de integração; e um documento sobre Migrações e Desenvolvimento, que estabelece bases para cooperação entre os países nessa área e envolve a participação de ministros da Justiça.

A prefeitura de Montevidéu já começou a controlar o acesso à região do centro velho de Montevidéu para a reunião de cúpula dos presidentes. Espera-se manifestações e protestos na cidade durante o encontro, e uma delas já está marcada: a dos moradores da cidade argentina de Gualeguaychú. Eles protestam contra a construção da fábrica de papel e celulose da finlandesa Botnia na cidade uruguaia de Fray Bentos, que fica em frente a Gualeguaychu, do outro lado do Rio Uruguai.