Título: Lula reafirma compromisso com equilíbrio fiscal e mais crescimento
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Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem mudanças radicais na economia durante seu segundo mandato - perspectiva surgida no domingo a partir de declarações do secretário de Relações Institucionais da Presidência, Tarso Genro, de que "acabou a era Palocci", numa referência à política econômica ortodoxa do ex-ministro.

"Não existe era Palocci, como não existe era Guido Mantega. A nossa política econômica era feita pelo governo e, sobretudo, por mim. O que precisamos entender é que estamos colhendo hoje coisas que foram plantadas no tempo do Palocci. E agora podemos apostar no desenvolvimento econômico, na distribuição de renda e numa educação de qualidade porque fomos muito responsáveis na condução da política econômica. Eu também queria que o país tivesse crescido um pouco mais, mas ainda não era possível compatibilizar o crescimento com o controle da inflação", afirmou.

O presidente reeleito também garantiu que a política de metas de inflação será mantida - "condição básica para manter o poder aquisitivo do povo pobre deste país" -, assim como a responsabilidade fiscal.

Sobre as especulações sobre a permanência ou não de Guido Mantega no Ministério da Fazenda, Lula mostrou irritação. "As pessoas não deveriam especular sobre coisas sérias, temas delicados que podem ter conseqüências na economia". E completou: "O Guido Mantega fica no ministério e a política econômica se mantém. Com uma atenuante importante: nós vamos priorizar o crescimento econômico" - mas ressaltou, "isso se mantém, até que eu decida mudar ou não".

Ainda em resposta sobre a formação de um novo ministério, o presidente Lula mostrou que as metáforas futebolísticas continuarão presentes no segundo mandato: "O que acontece é que na convocação da seleção brasileira e na formação do ministério todo mundo acha que pode dar palpite. Acontece que quem escala a seleção é o Dunga e quem monta o ministério sou eu".

No campo político, o presidente Lula negou que o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, irá assumir alguma função no futuro governo e defendeu uma relação "civilizada" com a oposição, para construir uma agenda de votações no Congresso Nacional. "Não existe projeto pessoal do interesse do presidente da República. O que existe são projetos de interesse do país, e o que eu espero do Congresso é que vote", afirmou. Entre esses projetos o presidente citou a reforma política, a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e o Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb).

De acordo com o presidente, já na próxima semena ele pretende convidar todos os governadores eleitos para um encontro em Brasília, para discutir uma agenda legislativa, junto com todos os partidos que compõem o Congresso Nacional. "Já tenho conversado com alguns deles por telefone e vamos almoçar juntos para discutir essas questões", adiantou.

Lula afirmou que não está preocupado com os possíveis desdobramentos das investigações sobre o envolvimento de petistas com a tentativa de compra do "dossiê Vedoin", contra os então candidatos tucanos José Serra, eleito governador de São Paulo, e Geraldo Alckmin. "Vamos conviver com isso normalmente. Não é um problema. O que é preciso é haver uma diferença muito clara entre uma oposição partidária, programática e uma oposição pessoal contra o presidente da República".

Ele aproveitou para rebater as afirmações de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de que "não dará tregua" a seu governo. "Eu lamento profundamente as declarações do ex-presidente, que parece torcer para que as coisas não dêem certo", reclamou o presidente.

Na noite de ontem, no primeiro dia após ser reeleito, o presidente cumpriu uma maratona de entrevistas aos principais telejornais do país, numa demonstração de que seu relacionamento com a imprensa no segundo mandato será bastante diferente do que ocorreu nos últimos quatro anos - um compromisso assumido já na noite de domingo, após seu primeiro pronunciamento como presidente reeleito, quando abriu oportunidade para algumas perguntas e, depois, brincou com os jornalistas: "Eu vou cansar vocês de tantas entrevistas coletivas".