Título: Aécio espera gestos 'concretos' do presidente
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A9

Não bastará discurso e convite para reunião em Brasília para convencer os governadores de que o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva está realmente comprometido com um grande projeto de reforma tributária, que contemple também os interesses do Estados. Será preciso fazer gestos concretos. A avaliação é do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). O mineiro lembra que, no primeiro mandato, Lula reuniu todos os governadores para levar um projeto de reforma ao Congresso que acabou avançando apenas no que diz respeito aos interesses da União e do governo federal.

"A questão da legislação do ICMS, uma definição do ressarcimento da Lei Kandir, entre outras questões, por exemplo, do interesse do Nordeste, dos municípios, como 1% a mais no fundo de participação, elas paralisaram", comentou Aécio. O governador falou ontem, por telefone, com o Lula. Foi, segundo ele, um telefonema de cortesia, para cumprimentá-lo pela vitória. Só depois de tirar alguns dias de folga é que Lula, de acordo com Aécio, vai procurar governadores e lideranças da oposição para conversar.

Independentemente das intenções do presidente em relação aos governadores, Aécio segue com seu plano original de mobilizar o grupo. "O que tenho discutido com alguns companheiros já eleitos no primeiro turno e com outros, de todos os partidos, com quem tenho conversado é que existe uma agenda muito madura em relação à reforma política e, em especial, à reforma tributária."

A meta de Aécio é construir um consenso razoável de governadores em torno dessas reformas para apresenta-lo à Câmara e ao Senado logo no início da próxima legislatura. Ele acredita que, com uma proposta de consenso, seria possível aprovar em 30 ou 60 dias os termos da legislação do ICMS e também da reforma política. "Não podemos perder tempo".

Para Aécio, a montagem do ministério será uma primeira sinalização do quanto o presidente Lula está comprometido com a construção de um projeto de país. "É muito importante que ele compreenda que não foi o seu partido que venceu as eleições, ele recebeu um voto de confiança pessoal da sociedade brasileira", afirmou. "E não foi, a meu ver, uma passada de mão na cabeça, uma contemporização em relação a tantos equívocos." A expectativa de Aécio é de que o presidente monte um novo governo de forma a mostrar que não sucumbirá às pressões que certamente surgirão do PT. "Eu, pessoalmente, quero ajudar o Brasil a avançar mas é preciso que do lado de lá haja correspondência."

A primeira cobrança do mineiro chega hoje ao ministro da Fazenda, Guido Mantega: a liberação do ressarcimento aos Estados pela desoneração das exportações, conforme previsto na Lei Kandir. Segundo Aécio, o governo não liberou até agora temendo implicações da lei eleitoral. Mas se comprometeu a liberar os recursos depois das eleições. Muitos Estados, disse, precisam desse dinheiro para fechar o orçamento.

O governador disse que tem conversado "mais do que as pessoas imaginam" com o governador eleito de São Paulo, José Serra. Segundo ele, é interesse dos dois aumentar a interlocução entre as bancadas dos dois Estados no Congresso. Ressaltou que ambos estão cientes das suas responsabilidades em relação. E frisou: não deixará que "interesses eleitorais prematuros" dificultem a aprovação das reformas necessárias.