Título: Continuidade é cenário econômico mais provável para segundo mandato
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A10

A economia brasileira corre o sério risco de nos próximos quatro anos deixar passar mais uma oportunidade de estabelecer um ciclo virtuoso de crescimento sustentado. Na avaliação do economista Claudio Porto, da consultoria Macroplan, o cenário econômico mais provável para o segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 53% de chance de acontecer, é o da "continuidade", sem aprofundamento das reformas que dariam sustentabilidade ao crescimento, hoje impulsionado pelo cenário externo favorável e pelo consumo das famílias.

Para Porto, apesar de boa perspectiva de governabilidade, são pequenas as chances de o governo fazer um ajuste fiscal rigoroso, o que fatalmente levará o financiamento dos gastos públicos para o perigoso caminho do aumento da carga tributária, sufocando a capacidade de investir e do PIB crescer acima de 3,5%.

No trabalho da Macroplan há mais três cenários desenhados por Porto, mas com menores possibilidades de se concretizarem. O que o economista considera o melhor deles, com 23% de viabilidade, é o da "travessia para o crescimento", onde, além de condições externas predominantemente favoráveis, o governo, amparado por uma gestão política muito eficaz e por um pacto pró reformas, dá um "choque fiscal" de qualidade na economia, logo no primeiro ano. O modelo de crescimento é puxado pelo investimento privado e público, criando condições para o país crescer entre 4% a 5% ao ano. O que gerará mais eficiência dos programas sociais, com maior enfoque sobre o que o economista denomina "porta de saída da pobreza", ou seja, criação de emprego.

Porto acho pouco viável, algo em torno de 16%, a concretização do que chama de "pior cenário", o "da crise". O quadro econômico, neste caso, é o de choque externo aliado a crise ética, desequilíbrio fiscal, aumento do risco país e da inflação (10% a 15% ao ano), e PIB avançando apenas 1,5% a 2%. O cenário "navegando na turbulência (externa)" é apontado por Porto como o mais improvável (8% de chance), pois apesar de haver boas condições de governabilidade, o país seria impactado por um "choque externo", exigindo um pacto de união entre as forças políticas para enfrentá-lo. A situação levará o governo a implantar um programa muito austero.

Na prática, Porto acredita que nos próximos quatro anos poderá ocorrer uma mistura dos cenários, da continuidade e da travessia."O governo poderá se articular com o setor privado para remover gargalos de infra-estrutura rodoviária, ferroviária e de portos." Os Estados poderiam colaborar, pois, segundo ele, têm melhorado seu perfil financeiro e fiscal, à exceção do Rio de Janeiro. Mas, a continuar o padrão de crescimento anunciado, apoiado nas exportações, mas mais voltado para o mercado interno, com transferência de renda, aumento elevado do mínimo e do funcionalismo, com expansão das despesas e custeio, não dará para crescer os 5% que o presidente Lula está prevendo para 2007. "E vamos continuar perdendo espaço no mundo", adverte o economista da Macroplan.