Título: Nota provoca confusão sobre permanência de Mantega
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem, no início da noite, divulgar uma nota oficial para conter as consequências, no mercado, de informações sobre uma eventual troca de comando no Ministério da Fazenda no segundo mandato. Ambígua, a nota, assinada pelo porta-voz André Singer afirma que "cabe ao Presidente da República indicar ministros e que o ministro escolhido por ele para ocupar a pasta da Fazenda chama-se Guido Mantega". Mas não esclarece em qual mandato.

Depois da divulgação, Lula comentou as especulações com irritação. "As pessoas não deveriam especular sobre coisas sérias, temas delicados que podem ter conseqüências na economia". E completou: "O Guido Mantega fica no ministério e a política econômica se mantém. Com uma atenuante importante, nós vamos priorizar o crescimento econômico" - mas ressaltou, "isso se mantém até que eu decida manter ou não".

Aliados ouvidos pelo Valor admitem que o texto é ambíguo. "O presidente está mais preocupado com os ministérios a serem dados para os aliados. Acho difícil que ele mexa na equipe mais próxima", afirmou um aliado que conversou ontem com o presidente.

Lula quis dar um sinal claro de que vai comandar esse processo de reforma ministerial e, indiretamente, acabar com a angústia de Mantega, que pela segunda vez foi ontem ao Palácio do Planalto buscar um esclarecimento. "O Mantega está ficando chateado. Todo dia aparece o nome de alguém na imprensa como provável futuro ministro da Fazenda", desabafou o presidente, irritado.

Um petista próximo ao presidente também acredita que o laconismo na nota oficial é cuidadosamente medido - o suficiente para Mantega não se sentir desprestigiado nem tampouco acreditar que tem poderes suficientes para se sentir seguro no cargo no segundo mandato. "Lula está escaldado. Nos primeiros quatro anos de governo, cansou de prestigiar ministros que, posteriormente, colocaram o governo em situação complicada", lembrou um aliado, sem citar nomes.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao chegar ontem em seu gabinete, afirmou que o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será mais desenvolvimentista, o que significa mais crescimento e mais emprego.

Mantega evitou a expressão "fim da era Palocci", usada no domingo pelo ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Tarso Genro, mas confirmou que o segundo mandato terá outra tônica. "Vai ser mais desenvolvimentista, mas é uma continuação da política econômica do primeiro governo, dentro de uma nova fase", explicou. Sobre a sua substituição, Mantega disse que "não passam de meras especulações, sem fundamento e valor".

Mantega afirmou que o governo vai encerrar 2006 realizando todos os projetos que foram programados e "deixando uma base para que esse desenvolvimentismo possa acontecer de forma plena". As prioridades no Congresso são a aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e a construção do consenso sobre a reforma tributária.Para o ministro, o comportamento da oposição vai ser "cooperativo" porque, sem campanha eleitoral, os interesses mudam.