Título: Lembo quer fim da aliança nacional entre PFL e PSDB
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A13

"Para alguém que estava tão sozinho, o resultado foi surpreendente", avaliou o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL) sobre o desempenho de Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pela Presidência da República. O resultado das eleições é um divisor de águas. Presidente do diretório paulista, Lembo deixou claro que, se depender dele, os tucanos vão disputar sozinhos as próximas eleições presidenciais. O pefelista não quer mais seu partido alinhado nacionalmente com os tucanos. "Alianças não têm força para se manter eternamente. Não creio mais em aliança incondicional", disse ontem, ao Valor.

O sucessor de Alckmin no governo paulista considera que o tucano foi abandonado por seus aliados durante toda a campanha eleitoral. "Faltou empenho do PSDB e do PFL. Em vez de o apoiarem, a todo momento atribuíam fatos negativos à campanha dele. A cada hora tinha um 'ofendidinho' reclamando de um lado", disse.

Lembo elogiou a vitória de Geraldo Alckmin em sete Estados e considerou que o tucano "aprendeu a lição" na disputa presidencial. "Ele é um líder nacional", pontuou. Mas é um candidato que errou feio na condução de sua campanha e de sua imagem pessoal. Para o pefelista, o candidato começou a perder votos a partir do primeiro debate do segundo turno, quando o confronto com o presidente Lula foi direto e o tom adotado pelo tucano foi agressivo. "Alckmin sempre foi o genro que toda sogra quis. Quando ele se mostrou como um genro comum, as sogras se afastaram", ironizou. "Ele alterou seu tom, sua personalidade".

O PT, de Lula, está à frente de seus pares. Se não fossem os desvios morais de dirigentes petistas, seria o partido mais avançado na arena política brasileira. Os demais partidos, oriundos da abertura democrática pós ditadura militar, "acabaram ontem (domingo), com essa eleição". Já o candidato tucano, apoiado pelo PFL, devia atualizar suas referências: "Quando eu via a campanha eleitoral, me lembrava muito do passado. Os discursos de Geraldo Alckmin lembravam os da Diretas Já. O mundo mudou. É preciso entender isso", apontou. "É preciso ver que os discursos têm de ser outros, tem que falar do patamar de igualdade social. Os discursos dos partidos estão velhos". Então o PT está na direção correta ao apostar no discurso da distribuição de renda? "O discurso do PT está adiante. O partido estaria adiante se não fosse essa problemática da corrupção. Estaria mais avançado se não fosse a fragilidade moral".

Lula é um bom companheiro para Lembo e foi ele quem venceu as eleições, não o PT. A oposição, a ser defendida pelo seu PFL, será "científica, fria e analista". "Não acredito que Lula terá muita dificuldade. A oposição tem que ser moderna, contemporânea. Não há mais lugar para uma oposição raivosa, sem resultado". Mas o pefelista não tem certeza da mesma postura em relação ao PSDB, sigla com "muitos quadros envelhecidos".

Mas não é só o discurso de Alckmin, nem o PSDB que Lembo considera velhos. O pefelista reconhece que seu partido tem de ser reformulado. "Ou o PFL forma quadros fortes ou tenderá a fragilização. O PFL saiu derrotado das urnas". O governador paulista diz que seu partido tem de dar espaço aos novos quadros políticos emergentes, como Guilherme Campos, eleito deputado federal por São Paulo, Rodrigo Maia, deputado federal pelo Rio e filho do prefeito Cesar Maia, e José Roberto Arruda, governador eleito pelo Distrito Federal. Apesar de ter eleito apenas um governador, Lembo se anima com a bancada do PFL no Senado, a maior, e imagina que o partido pode se renovar, transformando-se em um partido parlamentar.

O governador não ligou para Alckmin para cumprimentá-lo pelo desempenho. Nem a Lula, pela vitória. Restringiu seus parabéns a um fax, enviado ontem. Nos seus últimos dois meses de mandato, Lembo tenta manter o equilíbrio fiscal, de um governo que herdou com "pequenas dificuldades" - não tão pequenas assim. Além da diminuição do ritmo das obras, todas as licitações foram canceladas e ontem o Lembo tomou mais uma medida para equilibrar o caixa : assinou um decreto proibindo a contratação de funcionários em cargos comissionados.