Título: Tasso Jereissati diz que aceita diálogo com Planalto, sem "cooptação"
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A13

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), sinalizou ontem que o partido continuará fazendo oposição "dura, enérgica" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sem se negar ao diálogo ou a votar favoravelmente a propostas que considere importante para o país. "Não existe possibilidade de coalizão, de cooptação, mas também não haverá falta de educação", disse. "Dialogar pessoalmente, dialogo com todo mundo. Isso faz parte da política, do dia a dia da política", completou, esclarecendo que não recebeu qualquer convite

de Lula para conversar.

Apesar do aparente tom conciliador, Tasso avisa que, no Congresso, os tucanos continuarão cobrando investigações dos casos de corrupção e denunciando envolvimento do governo em irregularidades. "Não vamos mergulhar. Vamos partir para cima. Vamos mostrar que somos capazes de fazer oposição sem apego a cargo, ao poder. E mostrar os erros graves que estão acontecendo neste governo", disse. E avisou: "Ninguém vai ficar impune por causa das eleições. A eleição não anistia crimes".

Um dia depois do segundo turno, Tasso disse que as razões da derrota do ex-governador Geraldo Alckmin, candidato da coligação PSDB-PFL, com uma quantidade de votos inferior ao obtido no primeiro turno, precisa ser analisada posteriormente, com "cabeça fria". Mas apontou o que considera uma das principais razões: a falta de competência para responder às afirmações de Lula e seus aliados sobre a suposta intenção de Alckmin de privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras e outras empresas estatais, além de acabar com o Bolsa Família.

"A boataria pegou. Não tivemos agilidade para desmentir em tempo hábil. Os marqueteiros de Lula foram competentes", disse. Um pouco antes, da tribuna do Senado, o líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM), havia citado esse argumento como um dos motivos da derrota, mas dirigiu a crítica a Alckmin. "Confesso que meu candidato não se defendeu da maneira mais lúcida, mais pronta", disse, em discurso.

Tasso, em entrevista coletiva, admitiu que o ex-governador paulista poderá substituí-lo na presidência do partido. Em conversas reservadas, o senador cearense já admitiu que poderia antecipar sua saída do cargo para que Alckmin o ocupe. O mandato de Tasso termina em setembro de 2007. "Alckmin sai com quase 40 milhões de votos. Com um capital eleitoral fantástico, vencedor em sete Estados. Terá profunda influência no PSDB e no cenário político nacional", afirmou. "Não estou propondo nem negando, mas ele pode ser presidente do PSDB. É um quadro de muito peso", afirmou.

O presidente do PSDB, que deve se encontrar hoje com Alckmin em São Paulo, defendeu que seu partido continue atuando em conjunto com o PFL - com o qual esteve coligado em torno da candidatura Alckmin. Segundo ele, os dois partidos "enfraquecerão", se estiverem separados na oposição ao governo.

O fim do direito de reeleição para chefes do Executivo foi defendido pelo presidente do PSDB como uma das propostas a serem aprovadas pelo Congresso. Esclarecendo ser sua opinião pessoal, e não posição partidária, disse que a reeleição não deu certo no país.

Tasso Jereissati comemorou o fato de o PSDB ter eleito seis governadores e mostrou preocupação em esclarecer que Aécio Neves, reeleito em Minas Gerais, e José Serra, eleito em São Paulo, assim como todos os tucanos que assumirão outros Estados, têm o papel institucional de conversar com Lula, sem que isso signifique "cooptação". Segundo ele, essa relação é "obrigatória", para que sejam discutidos os problemas administrativos dos Estados. "Não se corta o diálogo. O que não se abre é a porta para a cooptação", disse o presidente tucano.