Título: Algoz da família Sarney já foi aliado de Roseana
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A14

A vitória de Jackson Lago (PDT) para o governo do Maranhão, com 51,8% dos votos, é mais um capítulo da intrincada história política do Estado, marcada por uma sucessão de alianças e traições.

Tradicional opositor da família Sarney - que comandou o Maranhão, direta ou indiretamente, nos últimos 40 anos -, Lago aglutinava as oposições no Estado desde 1988, quando de sua primeira eleição para a Prefeitura de São Luís. Novamente prefeito da capital em 1996, foi reeleito em 2000 com o apoio da então governadora Roseana Sarney e de seu partido, o PFL. Desta vez, de volta à oposição, derrotou a ex-aliada de virada, após ficar em segundo lugar no primeiro turno da eleição, com quase 12 pontos de desvantagem em relação à senadora.

Ainda não está clara a relação que Jackson Lago estabelecerá com a família Sarney a partir do momento em que assumir o governo. Logo após o anúncio de sua vitória, o governador eleito disse apenas que espera ter um bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar do apoio dado a Roseana Sarney no segundo turno.

Desde sua primeira eleição em São Luís, Lago conseguiu fazer sucessores e hoje o prefeito é Tadeu Palácio, também do PDT. Às vésperas da eleição, sarneyzistas acusavam Lago de fazer parte de uma nova oligarquia no Estado, com o controle do poder municipal em São Luís.

Aos 71 anos, o médico Jackson Lago é um dos signatários da "Carta de Liboa", de junho de 1979, manifesto de fundação do PDT - do qual será o único governador no país a partir de 1º de janeiro. A ligação com o ex-governador e fundador do partido, Leonel Brizola - a quem fez várias referências durante a campanha eleitoral - vem de longa data.

Em 1972, ao voltar de uma longa viagem de automóvel para visitá-lo no exílio, no Uruguai, sofreu um acidente na entrada de São Luís, no qual morreu sua primeira mulher.

A comemoração da vitória de Jackson Lago durou até a madrugada de segunda-feira e levou milhares de eleitores às ruas de São Luís. Os militantes estavam entre extasiados e perplexos com a primeira vitória contra o grupo Sarney em 40 anos. Vários diziam não acreditar na situação.

Na casa da praia do Calhau, a família Sarney recolheu-se após o reconhecimento da derrota feito por Roseana Sarney. A candidata, embora triste, encarou com relativa tranqüilidade o resultado. Mas o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) acusou o golpe e ficou muito abatido desde a divulgação da pesquisa de boca-de-urna do Ibope que indicava a vitória de Jackson Lago.

Integrantes da campanha da candidata culpavam o marido de Roseana, Jorge Murad, pela derrota. Ele foi o responsável pela organização da campanha durante o primeiro turno, que foi insuficiente em termos de mobilização pelo excesso de confiança. Alguns integrantes da campanha reclamavam que Murad já foi responsável por outras derrotas da senadora, como a derrocada de sua pré-candidatura à Presidência em 2002 depois da apreensão pela Polícia Federal de grande volume de dinheiro em espécie na sede de sua empresa, Lunus.