Título: Diferença em SP caiu 2,8 milhões de votos
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A14

Em São Paulo, berço político de Geraldo Alckmin e de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT ganhou 2,592 milhões de votos do primeiro para o segundo turno e o PSDB perdeu 230 mil eleitores. Alckmin conseguiu a maioria dos votos das urnas paulistas, mas em um mês de campanha, a diferença entre os dois candidatos caiu de 3,8 milhões de votos para 1 milhão.

Ex-governador do Estado, à frente do governo paulista por seis anos e meio, Alckmin teve 54,20% dos votos válidos no primeiro turno, porcentagem que caiu para 52,26% no segundo turno. Já o presidente Lula cresceu de 36,77% para 47,74%.

Dentro do PT, o crescimento da campanha do presidente Lula é atribuído à ex-prefeita da capital Marta Suplicy. Com a derrota do senador petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo e o envolvimento de dirigentes de sua campanha na compra de um dossiê contra políticos tucanos, Marta foi encarregada por Lula de cuidar da estratégia eleitoral no Estado. O reforço da campanha foi na periferia da capital, onde a ex-prefeita é muito popular, e na região metropolitana, onde está concentrado o colégio eleitoral paulista. O avanço petista pelo interior foi mais tímido.

"Foi uma outra dinâmica de campanha", analisou o terceiro vice presidente do PT, Jilmar Tatto, deputado eleito com apoio de Marta. "Teve maior mobilização social, articulação com os movimentos sociais, sindicatos e com os prefeitos. A agenda de rua foi intensificada e o presidente Lula também reforçou a agenda de comícios em São Paulo". Os 59 prefeitos petistas no Estado foram cobrados um a um para intensificar a campanha nas regiões. "Marta foi muito leal ao presidente", considerou Tatto.

O bom desempenho do PT no Estado cacifa ainda mais Marta para ocupar um ministério, como o das Cidades, ou uma secretaria. E a dá corpo a uma futura campanha da petista pela Prefeitura de São Paulo, em 2008.

Entre os tucanos, falta compreensão sobre a queda do número de votos de Alckmin no Estado. Para o presidente do diretório estadual, deputado Sidney Beraldo, o principal problema foi a falta de recursos da campanha do PSDB no segundo turno. "Ficamos limitados pelo orçamento da campanha. Fomos para o segundo turno com despesa grande e com orçamento apertado. Sem recursos, quase toda a estrutura de campanha do primeiro turno foi desmobilizada".

Beraldo tentou minimizar a queda do número de eleitores do PSDB no Estado: "A avaliação que fizemos é que o crescimento de Lula em São Paulo acompanha o do restante do país. O problema paulista é o problema nacional", afirmou. "Não teve estratégia diferente para o Estado".

Os erros estratégicos da campanha ficaram claros, segundo o dirigente tucano, com a demora em retomar os programas da televisão no segundo turno - "a campanha esfriou" - e com o envolvimento de Alckmin com a agenda proposta por Lula, da privatização, "sem defesa no momento certo". Além dos equívocos da campanha do PSDB, Beraldo não deixou de reclamar dos eleitores que relegaram a "questão ética ao segundo plano", nem de atacar o presidente Lula, por "uso da máquina pública".