Título: Jatos estão vetados em horário de pico
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Empresas, p. B3

As empresas de táxi aéreo e os jatos executivos foram proibidos de operar na região sob responsabilidade do controle aéreo de Brasília (Cindacta I), entre 07h30 e 12h, e 17h e 20h, até o dia 28 de novembro. A medida, definida em conjunto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Aeronáutica e Infraero, foi criada num momento em que vôos de todo o país estão sofrendo atrasos, em decorrência à diminuição na capacidade de atendimento dos controladores aéreos.

A norma que restringe as operações chamadas não-regulares foi emitida no domingo, pelo Departamento de Controle do Espaços Aéreo (Decea), e é válida por 30 dias. A área de restrição corresponde à maior parte da região controlada pelo Cindacta I - este abrange Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Goiás, o sul de Tocantins e parte do sul de Mato Grosso.

A determinação suscitou a reação das empresas de táxi aéreo e da entidade representativa do setor. A Líder, empresa de Minas Gerais, estima que poderá perder até US$ 2 milhões num mês com a limitação de horários imposta. "Não é o caso de restringir, tem que haver outras alternativas, nem que seja trazer controladores de fora do país, de outros Cindactas", afirma Eduardo de Pereira Vaz, presidente da Líder. Segundo ele, cerca de 70% dos vôos da companhia passam pela região controlada por Brasília.

"É um absurdo tomar essa medida dessa maneira, sem nos consultar", afirma Adalberto Febeliano, vice-presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). "Fica a impressão de que as autoridades precisam de um bode expiatório para justificar o problema dos atrasos." A Abag enviou uma nota de protesto às autoridades.

Nos últimos dias, a Infraero vem afirmando que a saturação do controle de vôo em Brasília foi causada pelo aumento no número de vôos executivos e de táxi aéreo. Segundo a Anac, essas operações representavam 20% do tráfego e hoje representam 50%.

"O motivo dos atrasos é a falta de planejamento e de capacidade gerencial", afirma Febeliano, que defende uma restrição, caso seja necessária, proporcional entre vôos comerciais e não-regulares. "A aviação geral corresponde a de 5% a 10% do tráfego."

"Os vôos não estão sendo restringidos. Eles estão sendo apenas redistribuídos, como forma de reorganizar o tráfego aéreo", afirmou ao Valor o presidente da Anac, Milton Zuanazzi. Segundo ele, o objetivo é atender o tráfego principal, que é o comercial. A Anac se reunirá amanhã com o Decea para definir novas medidas.

O diretor para assuntos governamentais do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), José de Anchieta Helcias, afirma que a falta de investimentos em infra-estrutura e equipamentos mais modernos, mais as condições ruins de trabalho dos controladores estão prejudicando as operações. Quanto à restrição dos vôos não-regulares, ele diz: "Eu acho que está certo. O táxi- aéreo não pode prevalecer sobre a aviação comercial, seria como um carro ter preferência sobre numa faixa dos ônibus".