Título: Esmark acirra disputa com CSN nos EUA
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Empresas, p. B7

O rival da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na disputa pelo controle da siderúrgica americana Wheeling-Pittsburgh conquistou o apoio do terceiro maior acionista da empresa na semana passada, ampliando ainda mais a incerteza que envolve os planos de expansão da CSN nos Estados Unidos.

Numa carta enviada sexta-feira ao conselho de administração da Wheeling, o sócio-gerente da Tontine Management, Jeffrey Gendell, criticou os planos da CSN e declarou seu apoio à Esmark, uma distribuidora de produtos siderúrgicos que apresentou uma proposta de fusão com a Wheeling em julho, um mês antes da companhia brasileira.

Gendell reconhece que a proposta da CSN, que tem a simpatia da direção da Wheeling, oferece benefícios para a siderúrgica no longo prazo, mas considera seus termos "muito pouco atrativos" para acionistas minoritários como ele, que temem a diluição de suas participações se a transação for levada adiante.

Empresas e fundos de investimento controlados pela Tontine têm 9,5% das ações da Wheeling e participações relevantes em outras siderúrgicas americanas, o que faz de Gendell uma voz muito influente no setor. Outros investidores com ações da Wheeling tendem a seguir sua opinião quando chegar a hora de decidir o futuro da companhia.

As propostas da Esmark e da CSN dependem da aprovação da maioria dos acionistas para sair do papel e a direção da Wheeling só pretende colocar o assunto em votação em janeiro. Mas na prática a briga pode alcançar um desfecho bem antes disso, na assembléia anual dos acionistas da companhia, prevista para o dia 17 de novembro.

Nessa reunião, haverá a eleição de uma nova diretoria para a Wheeling e a atual administração terá pela frente uma chapa indicada pela Esmark. Se os acionistas derrubarem a direção da empresa e escolherem o pessoal da Esmark, será o fim das aspirações da CSN. Se a Esmark perder, os aliados da CSN ganharão força para a reunião de janeiro.

Além da Tontine, a Esmark tem o apoio dos Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês), o sindicato que representa os empregados da Wheeling. O acordo coletivo que protege os interesses dos trabalhadores dá ao sindicato poder de veto sobre qualquer tentativa de transferência do controle da empresa.

Além disso, o sindicato controla indiretamente 23% das ações da companhia, por meio de um fundo criado para garantir as aposentadorias e o plano de saúde dos trabalhadores. O sindicato apóia desde o início a proposta da Esmark, que promete aumentar as contribuições da empresa para o seu fundo.

Em 2005, quando começou a esticar o olho na direção da Wheeling, a Esmark chegou a negociar um acordo com a CSN, cujos produtos ajuda a distribuir no mercado americano. Mas a conversa acabou cedo. "A CSN deixou bem claro que queria ter o controle total da empresa", disse ao Valor o presidente do conselho de administração da Esmark, James Bouchard.

A CSN tem se mantido em silêncio, enquanto continua tentando convencer os investidores das vantagens da proposta que anunciou em agosto. Com a fusão, uma nova empresa em que a CSN teria 49,5% das ações passaria a administrar os ativos da Wheeling e uma planta adquirida pela empresa brasileira no Estado de Indiana em 2001. A CSN injetaria US$ 225 milhões no negócio e poderia ampliar sua parte para 65% no futuro.

Para conquistar a adesão de Tontine, a Esmark melhorou sua oferta nas últimas semanas. Assinou com uma siderúrgica da Ucrânia um acordo para garantir o abastecimento de placas de aço para a Wheeling, nos moldes do que a CSN pretende fazer, e prometeu oferecer aos acionistas da empresa US$ 200 milhões em ações para evitar a diluição de suas participações.