Título: Petróleo tem maior queda em cinco meses
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Empresas, p. B6

O preço do barril de petróleo despencou nos mercados internacionais ontem. Tanto na Bolsa Mercantil de Nova York, como na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, a commodity sofreu uma redução ao redor de US$ 2,40. É a maior queda registrada em um dia nos últimos cinco meses.

Em Nova York, o contrato da commodity para dezembro deste ano foi negociado a US$ 58,36, queda de US$ 2,39. Já em Londres, o mesmo contrato sofreu uma redução de US$ 2,40, fechando o pregão em US$ 58,68.

Para analistas ouvidos pelo Valor, a queda acentuada do petróleo reflete uma combinação entre aumento dos estoques nos EUA e queda da demanda por óleo de aquecimento, produto usado durante o inverno no Hemisfério Norte. "Mas a grande verdade é uma só. Não havia justificativa que mantivesse o petróleo nesse patamar de preços", avalia David Zylbersztajn, presidente da consultoria DZ e que já foi diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Zylbersztajn, que calcula um valor entre US$ 40 e US$ 50 por barril a partir do próximo ano, explica que o petróleo estava alto por conta de uma ação especulativa no mercado. Afinal, diz ele, nunca houve problema de oferta e a demanda sempre foi atendida.

O economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), segue a mesma linha de raciocínio. "Os fundamentos de alta do petróleo se diluíram", afirma Pires. Segundo o economista, a falta de uma catástrofe natural, como um furacão, ou ausência de problemas políticos graves em países que são grandes produtores de petróleo ou mesmo a falta de um ataque terrorista contribuíram para a queda. O próprio Pires estima que, na média, o barril fechará o ano cotado a US$ 64. Já em 2007, espera-se que a commodity oscile entre US$ 55 e US$ 60.

No Brasil, o consenso é que não haverá alteração no valor em alguns derivados de petróleo, como gasolina. Relatório da consultoria Tendências, inclusive, afirma que se o preço do barril confirmar trajetória inferior a US$ 60, é natural que não haja aumento no valor da gasolina e que exista uma conseqüente estabilidade. Tanto é assim que a consultoria já reviu algumas projeções para o preço do barril. Acredita que o petróleo tipo Brent deverá terminar o ano a em um patamar de US$ 62.

Para o próximo ano, continua o relatório, a Tendências espera algo como US$ 65 na média. Este valor é inferior à provável média de US$ 65,50 que deverá ser registrada neste ano. Isso, contudo, somente acontecerá se não houver grandes modificações no cenário global de oferta e demanda.

Com a redução do preço do petróleo, os analistas se questionam a respeito da estratégia que a Petrobras adotará para definir os reajustes da gasolina. O combustível não é alterado desde setembro do ano passado e não há, segundo a Tendências, uma regra explícita para novos preços. E, portanto, comparando-se a média de valores no mercado internacional, o preço da gasolina tem uma defasagem de 16% de setembro de 2005 até agora.

"A tendência é boa, já que se a Petrobras precisar fazer algum reajuste, certamente será para reduzir o valor da gasolina. Agora, talvez ela queira manter o preço do combustível inalterado, como forma de compensar o período em que o produto teve um valor maior no exterior do que no mercado interno", avalia Zylbersztajn.

Adriano Pires também compartilha da mesma opinião. O fato é que o preço deverá cair também porque o mundo não apresentará grande crescimento econômico. Além disso, avalia que a diferença entre oferta e demanda, que hoje é de 1 milhão de barris por dia, subirá para 1,5 milhão no ano que vem.