Título: Álcool deverá subir na entressafra, mas menos do que no ano passado
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Agronegócios, p. B11

Os preços do álcool combustível, que em média se mantêm estáveis nas últimas semanas no país, como reflexo da oferta equilibrada no centro-sul, devem voltar a subir na entressafra do ciclo 2006/07, entre janeiro e abril do próximo ano, segundo analistas ouvidos pelo Valor. A expectativa é que as cotações do anidro (misturado à gasolina) e do hidratado (usado direto nos tanques dos veículos) superem R$ 1 (posto usina), mas não atinjam o pico da entressafra passada, quando em algumas regiões os preços atingiram R$ 1,30.

"O abastecimento de álcool durante a entressafra será mais tranqüilo", disse Plínio Nastari, presidente da Datagro. A consultoria prevê que os estoques finais nacionais ficarão em 1,08 bilhão de litros até o dia 30 de abril. O volume considera 380 milhões de litros da safra atual e 700 milhões de litros da safra nova, a 2007/08, com processamento antecipado para março. No ciclo anterior (2005/06), houve déficit de 140 milhões de litros nos estoques finais, e o abastecimento no centro-sul foi garantido com a antecipação da moagem.

Nastari acredita que a oferta de álcool durante a entressafra se manterá equilibrada mesmo com a alteração da mistura de álcool na gasolina, atualmente em 20%, para 25%. A decisão de aumentar a mistura ainda depende de autorização do governo.

Uma fonte do governo informou que esta decisão deverá ser aprovada nos próximos dias. "Ainda não há qualquer data definida para discutir a elevação da mistura. Mas o governo está propenso a autorizar o aumento [a decisão deveria ter sido tomada no dia 1º de novembro]", afirmou a fonte.

Se confirmado o aumento da mistura em cinco pontos percentuais, a demanda mensal nacional por álcool será 90 milhões de litros maior. "Considerando os próximos seis meses, de novembro a abril, seria uma demanda maior que 540 milhões de litros. Esses volumes não comprometeriam o abastecimento", disse Nastari.

De acordo com Marcelo Andrade, trader da Ecoflex Trading, o comportamento dos preços dependerá da aprovação ou não da mistura e dos reais estoques de passagem. Atualmente, as usinas estão vendendo álcool em poucos volumes no mercado físico, na expectativa de que os preços melhorem, segundo Andrade. "As usinas estão testando o mercado. A tendência é de alta nos próximos meses", afirmou ele.

Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a volatilidade do álcool tem sido bem menor nesta safra, em relação à anterior. "Na safra passada, os preços do álcool caíram muito durante a colheita e subiram demais durante a entressafra", observou Miriam Bacchi, pesquisadora do Cepea. O indicador Cepea/Esalq para o álcool anidro encerrou a sexta-feira a R$ 0,86636 o litro (sem impostos), na sexta-feira passada, com recuo de 0,03% sobre a semana anterior. Em relação ao mesmo período de 2005, os preços estão 7% mais baixos. Já o litro do álcool hidratado fechou a R$ 0,75796, com quedas de 0,06% na comparação semanal e de 6,5% na relação anualizada.

A cotação média do álcool anidro entre abril e setembro deste ano ficou em R$ 1, 30% acima do mesmo período do ano passado. O hidratado ficou em R$ 0,87, 30% maior que em igual intervalo de 2005, segundo Miriam Bacchi.

Segundo Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento, os preços do álcool combustível podem oscilar entre R$ 1,10 e R$ 1,20, mas não devem atingir o pico da safra 2006/07, quando os estoques estavam muito apertados.