Título: Múltis especializadas no setor têm bons resultados
Autor: Sousa, Paulo Henrique
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Caderno Especial, p. G3

O cenário de crescimento constante das exportações brasileiras tem atraído multinacionais especializadas em logística. Nos últimos dez anos, vários prestadores de serviços logísticos (PSL) se estabeleceram no país para gerenciar as operações da cadeia de suprimentos de seus clientes, com base em muita tecnologia da informação.

O professor Paulo Fernando Fleury, do Centro de Estudos de Logística (CEL) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), calcula que a receita total dos PSLs passou de R$ 1,56 bilhão para R$ 6 bilhões, entre 2000 e 2003 - o que significa um crescimento médio anual de 56%.

Na maioria dos casos, as multinacionais de logística vieram para cá seguindo os passos dos clientes para os quais já trabalhavam lá fora, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Nesta esteira, vieram TNT Logistics, Hellmann Worldwide Logistics, Vastera, Gefco e Penske Logistics, entre outras.

O professor Fleury nota uma tendência de concentração no segmento de prestadores de serviços logísticos no Brasil, fenômeno já ocorrido na Europa e nos EUA. Algumas empresas nacionais foram compradas por estrangeiras, como foi o caso da Bergen, comprada pela Vastera, em 2002 - em 2005, a Vastera foi adquirida pelo grupo JPMorgan Chase Bank.

O interesse das multinacionais pelo mercado brasileiro tem fundamento. Uma pesquisa com 93 entre as 500 maiores indústrias do país revelou que 45% delas pretendiam aumentar os gastos com a contratação de PSLs dentro dos seus orçamentos de logística - outros 48% pretendiam manter e apenas 7%, reduzir as despesas com a terceirização da logística.

O diretor da Hellmann no Brasil, Joachim Kohl, conta que a empresa chegou à conclusão de que só conseguiria aumentar a presença no mercado brasileiro se tivesse uma estrutura própria no país - e o mesmo foi feito em países latino-americanos, como Argentina, Chile e México. Hoje, cerca de 40% dos negócios vêm das operações de exportação. Para o ano que vem, Kohl antecipa que a empresa vai passar a operar com a logística e o transporte internacional de produtos perecíveis a partir do Brasil, como frutas e carnes.

Mas as concorrentes não param de chegar. A mais recente é a SKF Logistics Services, braço logístico do grupo sueco de rolamentos e sistemas de lubrificação, entre outros, que começou a operar no Brasil neste ano. "Nós percebemos que alguns clientes globais que já utilizam os serviços de nossa divisão tinham a necessidade de utilizá-la aqui no país", explica Alessi Gabriel Braga, coordenador de logística da SKF do Brasil. A expectativa dele é faturar R$ 15 milhões nos próximos cinco anos.

Num país com tantos problemas de infra-estrutura de transportes como o Brasil, há um campo vasto para a atuação de empresas especializadas. Dependendo da operação, movimentar um contêiner no porto de Santos pode custar US$ 210 dólares, muito mais do que os US$ 120 no porto de Roterdã, na Europa. Kohl reclama ainda que no Brasil, diferentemente da Europa e dos EUA, os armazéns não cobram pelo volume da carga, mas pelo seu valor. E também das constantes greves de alguns serviços portuários sem os quais as mercadorias não entram nem saem do país, como os da Receita Federal.

Para o consultor Marcos Isaac, sócio da Modus, especializada em logística e gestão de cadeia de suprimentos, os problemas de infra-estrutura do comércio exterior não deverão mudar no curto prazo e é papel das empresas de logística minimizar os prejuízos de seus clientes. A estratégia para isso é uma gestão eficiente da cadeia de suprimentos via monitoramento das cargas. E a ferramenta é a tecnologia, já disponível, mas ainda pouco usada no Brasil. Há sistemas capazes de se conectar aos dos armadores de navios e aos dos principais portos do mundo. Assim, é possível monitorar o andamento da carga on-line em tempo real.