Título: Para Bento XVI, juventude vive "déficit de esperança"
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Brasil, p. A2

A juventude no mundo vive um "déficit de esperança", segundo afirmou o papa Bento XVI a 40 mil jovens convidados no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em evento retransmitido em telão para outras 50 mil pessoas. O papa lamentou "o alto índice de mortes entre os jovens, a ameaça da violência, a deplorável proliferação das drogas que sacode até a raiz mais profunda da juventude de hoje".

O segmento de pessoas até 24 anos é visto como estratégico para Bento XVI que, ao lado da canonização de Frei Antonio de Sant'Ana Galvão, transformou a pregação à juventude no ponto central da viagem pastoral. A viagem à Aparecida não têm relação direta com o Brasil, já que se trata de um encontro com a Igreja latino-americana. Bento XVI já havia transparecido esta preocupação no primeiro ano de seu pontificado, quando compareceu à Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, na Alemanha. Naquela, que foi sua primeira viagem como papa, Bento XVI falou para cerca de 500 mil jovens.

Os jovens reunidos ontem em sua maior parte pertencem a movimentos religiosos, como Renovação Carismática, Opus Dei, Comunhão e Libertação e outros, representando um ramo leigo mobilizado, de comportamento conservador e distante da esquerda. Para esses jovens, Bento XVI pediu serviço: "Sois jovens da Igreja. Por isso eu vos envio para a grande missão de evangelizar os jovens e as jovens, que andam por este mundo errantes."

Em seu discurso, Bento XVI frisou a importância de se exercer a militância religiosa. "Quem observa os mandamentos está no caminho de Deus. Não basta conhecê-los. O testemunho vale mais que a ciência, é a própria ciência aplicada", afirmou.

Bento XVI ressalvou, contudo, que o que a Igreja deseja são fiéis com ímpeto missionário que dentro de ambientes tradicionalmente leigos, como os de trabalho e estudo. "O papa também espera que os jovens procurem santificar seu trabalho, fazendo-o com competência técnica e laboriosidade, para contribuir ao progresso de todos seus irmãos e para iluminar com a luz do Verbo todas as atividades humanas."

Além do encontro com uma platéia de devotos, no estádio do Pacaembu, Bento XVI agendou também a visita à Fazenda Esperança, em Guaratinguetá (SP), local de tratamento de dependentes químicos.

Ao falar para os convidados, Bento XVI condenou o radicalismo político e fez uma defesa da lei . "O Papa espera que saibam ser protagonistas de uma sociedade mais justa e mais fraterna, cumprindo as obrigações frente ao Estado, respeitando suas leis, não se deixando levar pelo ódio e pela violência, sendo exemplo de conduta cristã no ambiente profissional e social, distinguindo-se pela honestidade nas relações sociais."

Bento XVI incentivou a ação política, desde que tenha "fonte de inspiração no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja". Relacionou o que estaria dentro desta definição: "A construção de uma sociedade mais justa e solidária, reconciliada e pacífica, a contenção da violência e as iniciativas que promovam a vida plena, a ordem democrática e o bem comum e, especialmente, aquelas que visem eliminar certas discriminações existentes nas sociedades latino-americanas".