Título: Cresce déficit na balança dos bens de alta tecnologia
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Brasil, p. A4

Estudo inédito feito pela diretoria de desenvolvimento econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com abrangência de 1999 até março deste ano, mostra que, embora a participação relativa dos produtos de alta tecnologia no valor total das exportações do país esteja estável desde 2003 em 12%, apesar da valorização dos últimos dois anos, o déficit dessa categoria de bens na balança comercial do brasileira não pára de crescer. Nos 12 meses encerrados em março, ele foi de US$ 13,8 bilhões, contra US$ 13,5 bilhões em 2006 e US$ 11,4 bilhões em 2005.

De acordo com o trabalho, feito com base em metodologia desenvolvida pela Agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a participação dos produtos intensivos em tecnologia na pauta de exportações brasileira já foi bem maior, chegando a 19% em 2000, quando começou uma queda contínua até estabilizar-se em 12% em 2003, justamente o ano que começou com a desvalorização do real no seu auge. Para a Firjan, os números esfriam a tese de que o atual ciclo de valorização do real estaria provocando "doença holandesa" na indústria brasileira (desindustrialização).

A economista Luciana de Sá, diretora de desenvolvimento econômico da Firjan, reconhece que, apesar de os números das exportações reforçarem o ponto de vista da instituição de que não há "doença holandesa" no Brasil, o crescimento do déficit na balança de alta tecnologia reflete a "falta de prioridade e de investimento em pesquisa e desenvolvimento" no país.

Para Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o crescimento do déficit da balança dos bens de alta tecnologia é o dado mais importante. Ele resultaria de uma combinação do câmbio, origem da expressão "doença holandesa" (referência aos problemas enfrentados pela indústria daquele país na década de 1960, quando a moeda nacional, o florim, valorizou-se na esteira da descoberta de reservas de gás natural), com a falta de investimento nessa área.

"A oferta (desses bens) no Brasil tem sido feita cada vez mais com o aumento dos itens importados", sustenta. Pereira acha que essa tendência só se reverte com uma combinação de política industrial, câmbio e juros adequados, conquistando a confiança do empreendedor quanto ao retorno do investimento a ser feito.

Os dados compilados pela Firjan mostram que o grupo formado por aviões e seus componentes perdeu participação no total dos bens de alta tecnologia exportados pelo país, baixando de 39%, em 2000 e 2001, para 23% no ano passado e 24% nos 12 meses encerrados em março. De acordo com o estudo, somente os bens intensivos em trabalho e recursos naturais, que incluem tecidos, vestuário, papel, couros e outros, mostraram forte sensibilidade ao câmbio e à concorrência chinesa, tendo sua participação no total exportado pelo Brasil recuado de 13%, em 1999, para 9% nos 12 meses encerrados em março deste ano.

Houve estabilidade, com ligeira alta, entre os bens de média e de baixa intensidade tecnológica. Os primeiros fecharam o ano encerrado em março com participação de 20% no total (era 19% em 1999 e 21% no ano passado) e os segundos fecharam o último período do levantamento em 9%, o mesmo número do ano passado (8% em 1999). O déficit comercial dos bens de média intensidade tecnológica - onde estão incluídos bens como veículos e motores -, que persistiu até 2002, transformou-se em saldo a partir daquele ano, fechando os 12 meses encerrados em março passado em US$ 5,58 bilhões.

A participação relativa das commodities está em 42% (40% em 2005 e 41% em 2006), abaixo dos 44% de 1999, e a de petróleo e derivados saltou de 1% em 1999 para 8% agora. O item responde por 71% das exportações do Estado do Rio de Janeiro. Do lado das importações, os bens de alta e média tecnologia representam juntos 60% do total, sendo 35% para os primeiros.