Título: Rio e Minas travam disputa por Furnas
Autor: Moreira, Ivana e Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Política, p. A9

Uma das maiores geradoras de energia elétrica do país, com 13% de participação no mercado, Furnas, está no epicentro de uma disputa política que opõe o PMDB do Rio à praticamente toda a elite política mineira. A estatal é presidida por José Pedro Rodrigues, que foi indicado no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo com o ex-presidente Itamar Franco (sem partido).

O estremecimento das relações entre Lula e Itamar é considerado um dos pontos contra sua manutenção do mineiro na presidência de Furnas. Em Minas, no entanto, considera-se que se o peso de Itamar fosse determinante em sua manutenção no cargo, Rodrigues já teria caído desde 2003, quando a relação entre Lula e Itamar esfriou.

Magoado com o apoio de Lula à candidatura de seu rival Newton Cardoso (PMDB) para o Senado, Itamar Franco desfiliou-se do partido em 2006 e aderiu à campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência. Afastou-se de vez do governo federal e da maior parte do PMDB.

O que poderá pesar a favor de Rodrigues, dizem políticos mineiros, é justamente o escândalo do mensalão no qual Furnas foi envolvida. As denúncias derrubaram três diretores da estatal, mas não atingiram o presidente diretamente. Pelo contrário. O mineiro reagiu ao escândalo abrindo sindicâncias em vários setores da empresa.

Há quem garanta que essas sindicâncias apontaram irregularidades que desabonam o governo Lula - e também outras administrações. E não interessaria ao governo que, fora da estatal, Rodrigues fizesse tais revelações. Entre os três executivos afastados, acusados de envolvimento no esquema para pagamento de mesadas aos parlamentares, estava Dimas Toledo, um nome considerado próximo do tucano Aécio Neves, do pemedebista Itamar Franco e do PTB de Roberto Jefferson. Outro diretor afastado foi Rodrigo Botelho, ligado à CUT-MG.

Em Minas, o lobby do setor de energia é para que a presidência da estatal continue com um executivo mineiro "do ramo". "Temos bons nomes de executivos em Minas", afirma o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Robson Andrade. O empresário é um dos donos da Orteng, uma das maiores empresas de sistemas e equipamentos elétricos e eletrônicos do Brasil, e chama atenção para os grandes investimentos de Furnas em Minas para justificar a indicação de um nome da terra.

Andrade diz considerar "muito viável" a permanência de Rodrigues no cargo. Segundo ele, o conterrâneo tem feito uma gestão competente à frente da estatal.

Na semana passada, o presidente Lula teria dito ao PMDB, segundo uma fonte, que não aceitará a indicação de um nome que não tenha qualificação técnica. Apesar de ter sido nomeado por indicação de Itamar, Rodrigues, ganhou a simpatia da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A última articulação dos mineiros para indicação de cargos nas estatais do setor elétrico se deu nessa semana, quando um grupo definiu a indicação de José da Costa Carvalho Filho, ex-presidente da Cemig, para a Eletrobrás. A estatal está com um presidente interino desde dezembro do ano passado.

O Valor apurou, com fontes próximas ao governador do Rio, que a indicação de Luiz Paulo Conde, atual secretário estadual de Cultura e ex-vice-governador do Estado, não teria partido de Cabral e sim de um grupo de pemedebistas ligado à bancada do PMDB na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). "Não partiu de Cabral a indicação do nome de Conde. Mas ele não colocou obstáculos ao nome dele, afinal Conde integra o seu governo", disse a fonte.

A escolha de Conde é vista com reservas entre os agentes do setor de energia no país. Para o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), o mercado não deverá gostar da indicação. "Acho que gostariam que o governo tivesse um critério de escolha mais técnico", diz Pires. Mesmo sendo professor universitário e com experiência administrativa, o setor entende que Furnas por ser a maior geradora estatal de energia, já que a Eletrobrás é apenas uma holding, deveria primar pela técnica e não pela indicação política.

Um executivo do setor, no entanto, vê qualificação técnica de Conde e não o considera um estranho no ninho. "Acho que terá boa aceitação, porque tem uma vida pública limpa e experiência administrativa. Mas é fato que sua indicação é política", afirma. A maior resistência a Conde estaria, partindo, efetivamente, das resistências de Dilma Rousseff. (Colaborou Janaina Vilella, do Rio)