Título: Brasil chega perto do grau de investimento
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Finanças, p. C1

A Fitch Ratings elevou a nota de risco de crédito do Brasil ontem, de "BB" para "BB+", e colocou o país a apenas um nível do grau de investimento, selo de investimento não-especulativo dado pelas agências. Passou à frente da Standard & Poor's, cuja nota para o Brasil é "BB", e da Moody's, com nota "Ba2", ambas dois degraus abaixo do grau de investimento.

O grau de investimento tem sido perseguido pelo governo, pois ele possibilita que investidores mais conservadores e mais avessos ao risco comprem títulos de dívida do país, ampliando o leque de interessados em papéis brasileiros e criando condições, portanto, para uma queda nos juros pagos por esses papéis.

A possibilidade de o Brasil se tornar grau de investimento pela Fitch Ratings em 12 meses é pequena, segundo comentou Rafael Guedes, presidente da Fitch Ratings no Brasil. Segundo ele, estatisticamente, a probabilidade de um país que acaba de obter "BB+" passar a "BBB" em um prazo de um ano é de 18%. "É uma chance modesta", avalia. "Mas, tudo vai depender da rapidez na aprovação e implementação das reformas e na melhoria fiscal", diz. "O governo precisa reduzir gastos correntes para poder investir", afirma ele.

Guedes afirma que a alta na nota do Brasil é um reconhecimento da melhora significativa nas contas externas do país. "A acumulação de reservas internacionais de US$ 36 bilhões somente neste ano mostra o contínuo fortalecimento do balanço de pagamentos brasileiro e a resitiência a choques externos", segundo Shelly Shetty, diretora da Fitch para ratings soberanos, em nota à imprensa.

Guedes lembrou que o superávit comercial continua forte e tem surpreendido positivamente. "O Brasil já é credor público externo líquido", diz Guedes. A nota da Fitch cita os "saudáveis" superávits na conta corrente e robustos e contínuos fluxos externos de capitais, inclusive para investimentos diretos, levando as reservas para o recorde de US$ 122 bilhões. Essas reservas funcionam como um "seguro" em situações de economia global menos favoráveis, diz.

A Fitch não nega, no entanto, que essa acumulação de reservas "em parte reflete potencialmente voláteis fluxos externos atraídos pelas altas taxas de juros". Destaca também que o carregamento dessas reservas tem um custo, "dado a grande diferença entre os juros em reais e os juros pagos por ativos em dólar".

As reservas gordas e a atividade de gerenciamento de passivos externos melhoraram diversos indicadores externos, segundo cita a Fitch. A agência elogiou ainda a estabilidade macroeconômica, inflação baixa, fortalecimento da moeda e política fiscal consistente. No entanto, segundo Guedes, a dívida bruta de governo ainda representa 67% do Produto Interno Bruto, porcentagem bem superior aos países "BB" e "BBB", de 35% a 40%, respectivamente. A Índia é uma exceção, com 80%.

Além disso, o perfil da dívida interna preocupa, pois grande parte dela ainda é indexada a taxa de juros pós-fixadas e tem vencimento no curto prazo. "O governo do Brasil precisa investir para o país poder crescer a um ritmo maior do que os 3% dos últimos anos, inferior à média de países de mesmo rating", diz Guedes.