Título: Brasil paga juros de um dígito em emissão externa de R$ 787,5 milhões
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Brasil, p. C2

A elevação da nota de risco de crédito do Brasil pela Fitch Ratings ajudou e o Brasil captou R$ 787,5 milhões em títulos denominados em reais no exterior de vencimento em 2028. Pagou, pela primeira para papéis em reais no exterior, juros de um dígito: 8,938% ao ano. A demanda total passou os R$ 3 bilhões, segundo Douglas Chen, diretor de mercado de capitais globais/dívida do Deutsche Bank, um dos líderes da operação.

O rendimento pago foi bem menor do que na emissão inicial do papel de vencimento em 2028, o Global 28, em fevereiro, de 10,68% ao ano. Nessa ocasião, foram emitidos o equivalente a US$ 715 milhões. Em março, o mesmo papel pagou juros de 10,27% ao ano. "A estabilidade na moeda brasileira e a perspectiva de que as taxas de juros em reais vão continuar a cair atraem cada vez mais investidores para comprar títulos denominados na moeda brasileira no exterior", conta Chen.

Segundo ele, dos R$ 750 milhões emitidos ontem, 67% foram comprados por investidores americanos, 25%, europeus, 5% asiáticos, e o restante por investidores da América Latina. A maior parte dos compradores foram os gestores de fundos mútuos dos Estados Unidos, que ficaram com 66% do total, os fundos de pensão e seguradoras, com 10% os fundos de hedge, com 16%, e os restantes 8% foram parar nas mãos dos bancos e investidores de varejo dos fundos de private banking, das pessoas físicas ricas. Hoje, seriam emitidos mais R$ 37,5 milhões no mercado asiático, assim que ele abrisse.

"Os investidores externos possibilitam ao país emitir com prazos maiores de vencimento, alongando sua dívida", diz Chen. Segundo ele, hoje, o mercado já cobra preços do Brasil de um país que é grau de investimento ou está muito próximo disso. Segundo ele, por exemplo, um papel brasileiro de vencimento em 2017, em dólar, no mercado secundário, já paga menos do que as empresas americanas que têm classificação de risco de crédito "BBB", ou seja, estão no primeiro degrau do grau de investimento: 5,17% e 5,19% ao ano, respectivamente.

Um "swap" de crédito (CDS) do Brasil no exterior pagava prêmio de 71 pontos básicos para o prazo de vencimento em cinco anos, enquanto o mesmo "swap" de crédito do México, país que é grau de investimento, pagava 33 pontos básicos ontem.

De acordo com Chen, o Brasil soube aproveitar a janela e evitou emitir na sexta-feira, dia de movimento mais fraco. Segundo ele, a queda de mais de 2% na Bolsa de Valores de São Paulo, que acompanhou o tombo nas bolsas de Nova York, não atrapalhou em nada a emissão, que foi "um sucesso". Com a operação de ontem, a sétima captação no exterior por meio de papéis denominados na moeda brasileira do governo, o estoque de captações internacionais em reais do Tesouro já está em R$ 9,4 bilhões.

A emissão foi liderada pelos bancos Deutsche Bank Securities e HSBC Securities, dos Estados Unidos. Também participaram, como co-líderes, Itaú Europa e BB Securities. O Global 2028 tem cupom (juro nominal) de 10,25% ao ano e foi colocado a ao preço de 112,25% do valor de face. Os recursos vão entrar nas reservas internacionais, o caixa em moeda externa do país, em 17 de maio. Os cupons serão pagos nos dias 10 de janeiro e 10 de julho de cada ano, até o vencimento em 10 de janeiro de 2028.