Título: Bancos precisam crescer para competir globalmente
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Finanças, p. C4

A globalização é um dos principais desafios atuais do sistema financeiro. Falta aos bancos brasileiros massa crítica para participar desse jogo, tocado por instituições financeiras cada vez maiores. "Talvez a fusão dos cinco maiores bancos brasileiros seja uma questão de sobrevivência nacional", disse o professor Iberê Arco e Flexa, ontem, ao participar do seminário Setor Bancário: Análise e Perspectivas Estratégicas, promovido pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

Perto dos "megassauros" internacionais com patrimônio acima de US$ 1 trilhão, como o Citigroup, HSBC e Bank of America, os bancos brasileiros são "lagartixas" em ativos, disse o professor. "A soma dos cinco maiores bancos brasileiro dá no máximo um Calango Rex", com cerca de US$ 400 milhões, o suficiente para ocupar o 44º lugar no ranking internacional.

Arco e Flexa, que trabalhou no Itaú, ressalvou que os bancos brasileiros são acanhados em ativos, mas são "gigantes operacionais e eficientes", que podem vir a competir globalmente, a partir de plataformas locais.

Um dos principais motivos do tamanho reduzido dos bancos brasileiros é o que o presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), Milto Bardini, chama de "letargia" do crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). "Em comparação com o PIB antigo, o crédito é equivalente a perto de 35%, sendo que 5 pontos são operações de crédito imobiliário cumpridas com títulos do FCVS. No Chile, o crédito é dobro, representando 60% do PIB", afirmou Bardini, que também participou do seminário.

Para o presidente da ABBC, vários motivos inibem a expansão do crédito no país, desde o que chama de "ranços culturais", que condenam a alavancagem, aos juros elevados, compulsório, cunha fiscal, exigências legais e insegurança jurídica. Para que o crédito cresça, o banqueiro sugeriu que a queda do juro deve ser perseguida pelo ajuste do setor público e que a concorrência bancária seja estimulada.

A tendência global de fusões e aquisições torna os competidores globais dos bancos brasileiros ainda maiores. O diretor da consultoria Accenture, Leonardo Framil, lembrou no seminário que, no pano de fundo da recente onda de fusões de bancos europeus, estão a unificação da moeda e a centralização da compensação e ? 75 bilhões de capital liberado pelo novo Acordo da Basiléia.

O diretor de Normas do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou que o ambiente de queda dos juros e do spread também exige maior escala dos bancos, que estão buscando crescer também com parcerias com empresas de varejo, cessão de carteira, emissão de dívida subordinada e, mais recentemente, abrindo o capital.

Segundo Framil, o concorrente pode não ser outro banco e sim uma empresa de varejo ou de celular.