Título: BNDES pode ser sócio de usina da Thyssen
Autor: Vera Saavedra Durão e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Empresas &, p. B6

O BNDES poderá ser sócio na Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), a nova usina de aço a ser implantada no município do Rio pela ThyssenKrupp Stahl (TKS) em parceria com a Cia. Vale do Rio Doce, num investimento de US$ 2,3 bilhões. A sugestão partiu do próprio Roger Agnelli, presidente executivo da Vale, que conclamou seus sócios alemães a "conversar com o BNDES no sentido de atraí-lo como financiador e acionista da usina". Karl Köhler, presidente executivo da TKS evitou comentar sobre a participação do banco no negócio. O diretor de infra-estrutura e de insumos básicos do BNDES, Demian Fioca, indagado pelo Valor sobre a participação do banco na CSA, considerou que o banco teria de estudar a proposta. " O BNDES tem várias modalidades de participação mas não entramos ainda em detalhe de como apoiar este projeto porque não chegou ainda ao banco uma consulta formal de como os investidores privados do projeto gostariam de ter nosso apoio". Ele afirmou que o BNDES certamente está disposto a apoiar projetos que tragam novo patamar de investimentos e que sejam de grande porte. "Nossa intenção é a de apoiar os grandes projetos que posicionem o crescimento do país em um patamar qualitativo." Com a possível entrada de novos sócios na CSA, Agnelli admitiu que a Vale poderá reduzir sua fatia acionária na nova usina. Vale e Thyssen acertaram que, na siderúrgica os alemães terão 70% e a mineradora, 30%. Köhler salientou que nos estudos de viabilidade do projeto, que devem ser concluídos em meados deste ano, a participação de cada uma será meio a meio. "Quando começarmos a construção, será 70% e 30%". Até agosto, serão finalizados todos os detalhes do projeto, inclusive sua estrutura societária, disse Agnelli. O presidente da Vale confirmou que nos demais empreendimentos do complexo, a serem feitos para servir de apoio à usina, como uma termelétrica de 400 megawatts, uma coqueria de 1,4 milhão de toneladas/ano e terminais marítimos, as participações de cada sócio serão diferenciadas. A Vale poderá ter uma participação maior na termelétrica. Nos terminais, poderá ser dona de 100%, revelou José Carlos Martins, diretor de participações da companhia. O terminal portuário da CSA terá capacidade para movimentar 2 milhões de toneladas de carvão ao ano, todo importado, e 4,4 milhões de toneladas de placas de aço, tudo para exportação. Humberto Mota, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio, disse ao Valor que os terminais serão implantados em área contígua ao terreno onde funcionará a usina, na região de Santa Cruz. Ou seja, admitiu que a CSA terá terminais próprios. "Acho que não vai usar o porto de Sepetiba". O presidente da TKS afirmou que metade da produção da CSA será destinada para abastecer as usinas do grupo na Alemanha, que farão a laminação, vendendo o produto de maior valor agregado no mercado europeu. Os outros 50% serão exportados para outros mercados, sobretudo os Estados Unidos. Só a usina receberá investimento de US$ 1,52 bilhão e contará com tecnologia de ponta, incluindo uma linha de sinterização, dois altos fornos, dois conversores e dois lingotamentos contínuos. A térmica tem valor estimado em US$ 430 milhões e a coqueria de US$ 350 milhões. Aristides Corbellini, que será o presidente executivo da CSA, informou que os estudos de viabilidade do projeto devem ser concluídos em julho. A seguir, será feita a licitação e avaliação de ofertas das empresas que disputarão a obra. A previsão é que o início da construção ocorra em meados de 2006 e que a primeira placa seja produzida no segundo semestre de 2008, com a usina atingindo capacidade plena no final do mesmo ano. Ele adiantou que o projeto deverá criar 3.440 empregos. Na fase de construção, a obra ocupará entre 8 mil e 10 mil pessoas. O presidente da TKS, Karl Köhler, que junto e Roger Agnelli assinou ontem no Palácio Laranjeiras, no Rio, o protocolo de intenções com o governo do Estado prevendo os incentivos fiscais para o projeto, pretende apresentar hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, o investimento do grupo alemão no Brasil. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan compareceu a cerimônia e abriu as portas do BNDES para apoiar o projeto. O executivo alemão explicou que a escolha do Brasil para receber este investimento se deveu ao fato de que é mais vantajoso para a empresa transportar placas ao invés de minério, além de vantagens logísticas e de custo do aço. A TKS é cliente de longa data da Vale, que lhe fornece minério no longo prazo. Em seu pronunciamento, na cerimônia, Köhler ressaltou que o grupo alemão está presente no país com 24 empresas, que empregam 9 mil funcionários e faturam US$ 800 milhões ao ano. A principal delas é a ThyssenKrupp Metalúrgica Campo Limpo, no Estado de São Paulo, que fatura US$ 300 milhões.