Título: Para tucanos, governo manipulou números do PAC
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2007, Política, p. A6

O PSDB fez uma avaliação crítica do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em documento divulgado ontem. Segundo o estudo, o PAC usou "artifícios estatísticos" para melhorar os resultados apresentados no dia 7. Os tucanos apontam falta de transparência no programa e dificuldades de gestão.

"Compara e iguala, no balanço do programa, projetos de dimensões totalmente díspares: uma usina hidrelétrica que gera 43 vezes mais que outra desfruta de mesmo peso na contabilidade oficial. Usando critérios mais adequados, verifica-se que, no setor de geração de energia, pelo menos 18% da expansão prevista encontra-se seriamente comprometida - o governo preferiu, porém, agrupar dados para sustentar que apenas 3,8% de todo o segmento energético corre riscos", diz o documento.

O fato de apenas 109 das 1.646 ações incluídas no PAC terem seu andamento detalhado é apontado como falta de transparência, já que impede o acompanhamento. "O governo reuniu os números de forma a obter algum retrato favorável do PAC. Nesse recorte, 52,5% das obras estariam com andamento absolutamente dentro do cronograma previsto. Isso deveria ter servido para sublinhar que 47,5% dos empreendimentos têm problemas. Mas o olhar oficial preferiu demonstrar que nada menos que 91,6% das ações seguem em 'ritmo satisfatório', incluindo nessa contabilidade obras e projetos cuja execução inspira cuidados", afirma o estudo do PSDB.

Os tucanos dizem que, mantido o ritmo de investimentos efetivamente feitos (dos R$ 15,8 bilhões anunciados para gastar este ano, apenas R$ 1,92 bilhão haviam sido contratados até abril), "o desempenho orçamentário do PAC mal superará um terço do programado".

Governistas reagiram às conclusões do PSDB. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), considera que as avaliações estão "equivocadas", porque o PSDB estaria desinformado.

Os tucanos criticam o fato de a construção da usina de Toricoejo (MT), capaz de gerar 76 MW, carimbada com selo verde, ser colocada com o mesmo peso da "emblemática e problemática" Jirau, no rio Madeira, com seus 3.326 MW marcados em vermelho. "Como se vê, em potência instalada, uma Jirau equivale a 43 Toricoejo. Qual a utilidade de um balanço que obras de grandezas tão díspares?", pergunta. Para os tucanos, o "procedimento correto" seria comparar potências em megawatts, extensões em quilômetros e capacidades em metros cúbicos de cada empreendimento.

Pelo balanço do governo, o PSDB constata que mais de um terço da energia exigida para sustentar o crescimento está ameaçada de frustração. E apenas 13 dos 30 empreendimentos de expansão da produção de gás estão em dia.