Título: Incerteza política já afeta a economia do Equador
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2007, Internacional, p. A11

A instabilidade política do Equador e a expectativa em relação a mudanças na Constituição já estão provocando uma redução dos investimentos das empresas privadas de petróleo no país. Esta redução levou a uma acentuada queda na produção de petróleo no primeiro trimestre deste ano: 22 milhões de barris ante 31,8 milhões no mesmo período de 2006.

De acordo com o Banco Central equatoriano, a diminuição da produção contribuiu para que o país registrasse um déficit comercial entre janeiro e março de US$ 184,18 milhões. No mesmo período de 2006, o país teve superávit de US$ 437 milhões.

"Dois fatores causaram o déficit: a queda no nível de produção da indústria petroleira e o aumento das importações", disse ao Valor uma fonte do setor de estatísticas do BC equatoriano. "Empresas privadas de petróleo não realizaram o mesmo volume de investimentos por conta das expectativas em relação a medidas políticas e econômicas que o governo deverá tomar e por conta da reforma na Constituição", disse a fonte, que pediu para não ter o nome divulgado.

Operam no Equador 12 petroleiras privadas, entre nacionais e estrangeiras, segundo o Ministério de Energia e Minas. Entre elas estão Petrobras, as chinesas Petrooriental e China National Petroleum Corporation (CNPC) e a espanhola Repsol - esta a maior investidora no país, diz o ministério.

O Equador viveu momentos de caos institucional nos primeiros meses do ano ano. O novo presidente, Rafael Correa - um economista de esquerda -, venceu a resistência da maioria parlamentar de oposição e aprovou, por meio de uma consulta popular, a abertura de uma Constituinte que será instalada ainda este ano. Analistas acreditam que ele tentará mudar as leis para conceder mais poderes à Presidência e aumentar o controle sobre a economia, principalmente no setor de petróleo.

Em meio ao debate sobre a Constituinte, 57 parlamentares acabaram cassados pela Justiça. Alguns chegaram a deixar o país dizendo que seus direitos haviam sido violados por tribunais supostamente alinhados a Correa. Esse clima de instabilidade teria posto investimentos privados em banho-maria e afetado a produção petrolífera. No entanto, a produção de petróleo da estatal Petroecuador aumentou entre janeiro e março para 23 milhões de barris, ante 17 milhões no mesmo período de 2006. Ainda assim, o resultado total - da produção estatal e privada - de 2007 foi inferior ao de 2006: 45 milhões de barris em comparação com 49 milhões.

Além, da redução da produção petróleo, o déficit comercial equatoriano também foi influenciado pelo aumento de 17% das importações não-petroleiras. A aquisição de bens de consumo duráveis e de matéria-prima, principalmente para a área agrícola, puxaram as compras no exterior, que atingiram no primeiro trimestre a marca de US$ 2,39 bilhões. Em 2006, no mesmo período, as importações ficaram em US$ 2,04 bilhões.

O Equador é um dos maiores exportadores de petróleo da América Latina. Mas mesmo sua balança comercial petroleira perdeu fôlego entre janeiro e março, ficando em US$ 914,8 milhões, ante US$ 1,24 bilhão de 2006. O país registra um elevado déficit comercial não-petroleiro de US$ 1,099 bilhão. No primeiro trimestre de 2006, este número era de US$ 805 milhões.