Título: Mão-de-obra passa a ser trava a investimento
Autor: Neumann, Denise e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Brasil, p. A2

O custo de capital e a disponibilidade de recursos deixaram de ser os principais gargalos para a ampliação dos investimentos brasileiros, sejam públicos ou privados. Mão-de-obra qualificada, gestão ineficiente no setor público e incertezas regulatórias foram apontadas, ontem, em sessão do Fórum Nacional, como os principais obstáculos para que o Brasil eleve e mantenha, nos próximos anos, a taxa de investimento acima dos 16,8% de 2006, já considerando o novo cálculo do Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, presente ao evento, apontou o mercado de trabalho como uma das restrições à expansão dos investimentos no país. Ele previu que a Petrobras e seus fornecedores irão encontrar dificuldades na contratação de mão-de-obra qualificada para atender aos novos projetos em carteira.

Gabrielli disse que, diante deste cenário, a Petrobras vem participando do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) por meio do qual serão treinados, até 2008, 77 mil profissionais em 720 diferentes ocupações. "As pessoas serão treinadas em 3,2 mil cursos não para a Petrobras, mas para atender a cadeia de fornecedores da empresa", disse Gabrielli.

Na avaliação do presidente da Petrobras, existe uma segunda restrição ao investimento que passa pela plena ocupação da capacidade instalada da indústria de fornecedores. "É um problema de velocidade, de desequilíbrio positivo provocado pelo processo de desenvolvimento, pela retomada do crescimento", afirmou Gabrielli. Ele disse que esse processo vai abrir oportunidades e forçar novos investimentos na cadeia produtiva de petróleo e gás.

O consultor Carlos Frischtak analisou os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e concluiu que ele terá um papel importante no aumento da taxa de investimento em 2007. Ele prevê que a taxa subirá de 16,8% em 2006 para 17,6% em 2007, dos quais entre 0,3 e 0,5 ponto serão decorrentes do PAC. "O impacto direto do PAC, em 2007, será significativo, mas a questão é se esse choque de investimentos públicos pode impulsionar a taxa dos próximos anos", ponderou.

Depois de 2007, disse ele, a participação privada no investimento será decisiva, mas ela vai depender das perspectivas de crescimento da economia e da remoção de gargalos que desta vez não estão relacionados à oferta e ao custo de recursos para bancar os projetos. Frischtak projeta uma evolução média do PIB de 4,7% até 2011. "Temos um quadro benigno, em que o custo do capital caiu, mas vamos ter uma severa restrição de mão-de-obra qualificada se essa taxa for confirmada", disse ele.

Além desta restrição, ele destacou a necessidade de melhorar o ambiente regulatório e a capacidade gerencial do governo. Em 2006, calcula ele, os investimentos do Ministério dos Transportes ficaram em apenas 0,2% do PIB, considerando desembolsos e restos a pagar. "Os investimentos previstos no PAC são suficientes, o problema está na capacidade de gestão dos agentes do governo", observou.

Na área de infra-estrutura, o consultor vê riscos de gargalo na oferta de energia elétrica, com aumento do risco de racionamento depois de 2009. Esse risco, que é de 5%, pode crescer para até 25% em 2011, especialmente se a economia entrar em uma rota de crescimento mais virtuoso e, em vez de 4,7% ao ano, evoluir a um ritmo anual de 5,45%.