Título: Câmbio leva empresas às compras
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Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Brasil, p. A7

Se a valorização do real em relação ao dólar torna a competição mais acirrada com os produtos importados, de outro lado abre uma oportunidade para as empresas investirem na compra de máquinas e equipamentos no exterior para tornar mais eficientes o seu processo produtivo.

O câmbio barato está levando as empresas da área de mineração e siderurgia, por exemplo, a importarem mais máquinas e equipamentos, já que estão com o caixa cheio por conta da alta das commodities minerais e metálicas e do aço. Assim, seja para tocar novos projetos de investimento, como o caso da CSN, que já acertou as encomendas de equipamentos da China para sua fábrica de cimento, seja para modernizar e repor máquinas antigas, como está fazendo a Paranapanema, o novo "boom" ajuda a minimizar o efeito contrário do dólar nas exportações.

Para fazer manutenção e reposição em suas empresas, a holding Paranapanema, que produz derivados de cobre, estanho e fertilizantes, fez um programa de importações. Isto só é possível porque a empresa está faturando bastante com a alta dos seus produtos, pois caso contrário o real valorizado inviabilizaria várias operações.

Recentemente, foram encomendados equipamentos para modernizar a planta de aço sulfúrico da Caraíba Metais. Estes equipamentos são denominados de "chemetics" e vêem do Canadá. Todos estes produtos são caros, nenhum é inferior a US$ 1 milhão. Os equipamentos da Caraíba custam entre US$ 4 a US$ 5 milhões. Na Eluma, que produz derivados de cobre, as encomendas de novo maquinário foram feitas na Inglaterra e na China. Na Mamoré Taboca, empresa de estanho, onde a Paranapanema está desenvolvendo o projeto Rocha Sã, de estanho a céu aberto, foram importados equipamentos da marca finlandesa Mezzo, da China. São moinhos Mezzo, para ajudar na britagem da rocha e na reconcentração do estanho. Foram adquiridas também peneiras americanas da marca Derrichs.

Nas análises de cenários macroeconômicos da Paranapanema, o dólar vai se manter baixo nos próximos dois anos. Em função dessas projeções, a companhia tem aproveitado para fazer um "up to date" nas suas empresas. Mas, se o preço das commodities cair, será difícil manter esta estratégia com o dólar barato.

Armando Santos, presidente da Bahia Mineração Limitada (BML), uma mineradora que ainda está em fase de desenvolvimento, destaca que a preocupação com o dólar é importante, pois todos os equipamentos que a companhia tiver que importar futuramente têm preço em dólar. Ele acha correto o que as empresas do setor vêem fazendo, aproveitando está fase do real valorizado para comprar equipamentos. A BML está ainda em fase de finalizar estudos de viabilidade do projeto. Mas dentro do seu cronograma deverá entrar em operação em final de 2010.

Todos os novos projetos de mineração e siderurgia em andamento, como o da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da alemã ThyssenKrupp, no Rio, vão exigir importações de grande monta de máquinas e equipamentos, como alto-fornos e lingotamento contínuo. Seguindo o exemplo da Gerdau, em seu projeto de ampliação da Açominas, a maioria dessas empresas estão fazendo encomendas na China, onde o alto-forno se transformou em equipamento de prateleira e custa a metade do que é produzido hoje no Brasil.

A trajetória de desvalorização do dólar ante o real ajudou a Móveis Carraro, de Bento Gonçalves (RS), a importar duas máquinas da Alemanha e da Itália para aumentar a produtividade e a qualidade da linha Criare, de produtos planejados. Os equipamentos, que custaram US$ 1 milhão, foram contratados em agosto do ano passado, quando o dólar ficou na média de R$ 2,15, e recebidos em março.

Segundo o presidente da empresa, Ademar De Gasperi, as máquinas sem similares nacionais foram adquiridas para suprir o crescimento da demanda no mercado interno e não era possível esperar por uma desvalorização mais acentuada. "Mas se fosse para produzir para exportação, não compraria nem com o dólar a R$ 2,50", disse o empresário, que fechou o câmbio da operação em agosto.

A Randon , que opera nos segmentos de implementos rodoviários, veículos fora de estrada e autopeças, possui um programa de investimento iniciado em 2006 de R$ 800 milhões. Segundo o diretor corporativo da empresa Erino Tonon, parte substancial dos maquinários comprados é de origem externa. "Há algumas máquinas que não são produzidas aqui, mas fizemos pesquisa de preço, e encontramos equipamentos que custam de 20% a 30% mais barato do que os nacionais", diz. Tornos, prensas e centro de usinagem são exemplo de maquinários que estão mais em conta lá fora, de acordo com levantamento da empresa.

No início dos investimentos, em 2006, houve uma compra de U$ 20 milhões em máquinas importadas, montante que será repetido este ano. Em 2008, quando a Randon investirá R$ 100 milhões em máquinas para fundição e R$ 50 milhões em sistemas de pintura, até 80% do material será comprado de fora.

O crescimento da importação de bens de capital está acelerado, e subiu 30,9% no acumulado do ano, segundo levantamento da Funcex. O ciclo de altas vem desde 2004, quando cresceu 10,17% sobre 2003. De lá para cá, as compras desses produtos aumentaram 21,4% em 2005 e 24,9% em 2006. "O aumento nas importações corrobora a alta que também tem acontecido na produção interna", diz Isabella Nunes, coordenadora da pesquisa de produção industrial do IBGE.

A fabricante de baterias automotivas Moura, de Pernambuco, encomendou, no ano passado, US$ 5 milhões em equipamentos para a expansão da fábrica. Agora que as máquinas estão chegando, o desembolso da fabricante de baterias será cerca de 15% menor por causa da mudança no câmbio. "É preciso aproveitar as oportunidades criadas. Mas isso só é possível para quem consegue crescer mesmo sem exportações", explica Paulo Sales, vice-presidente financeiro.

A indústria de água mineral, também aproveita o real valorizado para comprar equipamentos. A Água Mineral Natural Ouro Fino , que começou a exportar há cerca de quatro anos e prevê queda de 30% este ano, planeja a aquisição de novas máquinas. "A compra das máquinas pode compensar a perda com exportação", diz Guto Mocelin, presidente do conselho de administração do grupo. (Vera Saavedra Durão, Sérgio Bueno, Samantha Maia, Carolina Mandl e Tainá Bispo