Título: Fabricantes redirecionam suas vendas para o Brasil
Autor: Daniela D'Ambrósio e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2005, Empresas &, p. B7

A forte valorização do real está levando as empresas exportadoras de calçados a reavaliar sua estratégia e direcionar esforços para o mercado interno. A Samello, que exporta cerca de 65% da produção, está voltando todas as suas atenções para o mercado nacional. A empresa está lançando uma nova marca de calçados masculinos, a Maxx por Samello, e começará a vender seus produtos em lojas multimarcas - a empresa tem 28 lojas próprias no Brasil. "A idéia é aumentar as vendas entre 40% e 45% aqui no Brasil", afirma Renato Furtado, diretor superintendente da Samello. A empresa está sendo prejudicada com a queda do dólar frente ao real, principalmente porque 80% das suas exportações são feitas com marca de terceiros. E, nesse caso, o que conta é custo -, e o produto brasileiro deixou de ser competitivo. "Para a próxima coleção, alguns negócios que viriam para o Brasil já foram para a China e Índia", diz Furtado. Segundo ele, mesmo antes da desvalorização do dólar, o calçado brasileiro já custava, em média, entre US$ 3 a US$ 4 a mais que os demais. "Mas o prêmio pela qualidade do produto já não se justifica, porque agora ele passou a ser quase o dobro", completa. A Samello, que no ano passado produziu cerca de 10 mil pares de sapatos por dia, concentra suas exportações para os Estados Unidos: 75% são vendidos para o mercado americano, 15% para a Europa e 10% para a Ásia e América do Sul. Para não perder mercado nos países onde não têm loja própria, a Picadilly optou por sacrificar os ganhos. "Estamos trabalhando com margem zero na exportação", afirma Paulo Eloi Grings, diretor comercial. A empresa fez uma parceria com distribuidores e representantes, que estão arcando com várias despesas (inclusive viagens) e aceitaram reduzir margens. "Tivemos que fazer isso para não perder mercado, mas não aguentamos até a metade do ano", diz. A Sândalo também está sacrificando sua lucratividade. "Consigo bancar isso por mais dois meses", afirma Carlos Brigagão, presidente da indústria, em relação às vendas para o mercado americano. Segundo ele, a Sândalo já deixou de vender algumas linhas para os Estados Unidos porque o prejuízo com esses produtos estava muito grande. Por causa disso, Brigagão espera ampliar a oferta para o mercado interno. Enquanto em 2004 metade da produção foi para o exterior, neste ano, a meta é reduzir para 30% ou 40%. Esse montante leva em conta a criação de mais demanda na Europa. A Dakota tem uma visão diferente. A indústria acredita que pode elevar suas exportações em volume, mesmo que modestamente, em 2%. As vendas externas representam hoje 15% da produção da empresa. "Vendemos com as nossas marcas, por isso acreditamos que não sofremos tanto a concorrência com os chineses", afirma Álvaro Pedó da Silva, responsável pela subsidiária americana da Dakota, aberta em 2004. "Já fizemos um investimento e agora não temos como voltar atrás. Até porque se as demais indústrias retornarem, nós estaremos lá para vender", explica Silva. Mas para não impactar tanto os resultados da Dakota, Silva também está em em busca de clientes na Europa e na África.