Título: PT reafirma candidatura à sucessão de Lula
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Política, p. A10

O PT terá candidato próprio a presidente em 2010, como é da tradição do partido, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva efetivamente cumprir a promessa e não se render à eventual mudança na legislação que lhe permita o terceiro mandato consecutivo. Segundo dirigentes partidários, o PT cresceu e se consolidou disputando as eleições, tornando-se uma referência mesmo na derrota. Caso do próprio Lula em 1989.

Na avaliação dos petistas, só o próprio Lula, se chegar em 2010 com as atuais condições de popularidade, poderia ser o "candidato de consenso" da coalizão política que sustenta o governo. E se não ficar tentado a permanecer, será o grande eleitor, capaz de alavancar uma candidatura própria do partido numa eleição a ser disputada em dois turnos - as alianças com siglas que integram a coalizão e que também indiquem candidato, portanto, ficariam para o segundo turno.

"Assim como é natural que todos os partidos da coalizão querem encabeçar esta 'candidatura de consenso', no caso do PT, trabalhamos para ter o candidato a presidente em 2010", diz o secretário de relações internacionais do partido, Valter Pomar. "O mesmo fazem outros partidos". Pessoalmente, Pomar avalia que "a coalizão que sustenta o governo, hoje, lançará vários candidatos no primeiro turno das eleições de 2010. E o PT seguramente terá candidato ou candidata à Presidência da República".

O vice-líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), ao mesmo tempo em que diz que "o PT não deve fechar as portas para nenhuma análise", adverte que esse é um debate - a sucessão de Lula - que "não interessa em nada ao partido, neste momento". Considera que é prioritário "soldar" as relações com o PSB, PCdoB e PDT, abaladas desde a eleição para a presidência da Câmara, e a eleição municipal de 2008, que deve estabelecer parâmetros importantes para 2010.

O próprio presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), considera natural que os partidos da coalizão até tentem encontrar um nome consensual para 2010, se for mantida a atual estabilidade da coalizão, mas é o primeiro a lembrar que há os projetos partidários de cada sigla. Berzoini é um dos que defendem que o PT permaneça como uma "referência" do cenário político-eleitoral. Uma pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo indica que 1/4 do eleitorado brasileiro vê com simpatia o PT.

Entre os demais partidos integrantes da coalizão governista, a avaliação é que o PT não abrirá mão de indicar um candidato à sucessão de Lula, ainda mais se o presidente chegar ao fim do segundo mandato em condições reais de ajudar na eleição do sucessor. Neste caso, o mais provável é que Ciro Gomes seja lançado pelo PSB, enquanto o PMDB poderia se oferecer para abrigar a candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, na hipótese de ele não chegar a um acordo com o governador de São Paulo, José Serra, ou se ver sem chances de conseguir a indicação pelo PSDB.

Para líderes partidários, quando fala em nome de "consenso" Lula estaria pensando na realidade em Ciro. De fato, em mais de uma ocasião o presidente se referiu com simpatia à hipótese de o deputado ser o seu sucessor. Mas a avaliação, no Congresso, é que no fim Lula cederá à pressão do PT, como tem sido recorrente e aconteceu recentemente na eleição para a presidência da Câmara, que opôs dois aliados: Arlindo Chinaglia (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB).

No Palácio do Planalto há quem assegure que Lula realmente estimula uma candidatura de Aécio Neves pelo PMDB. Mas assessores próximos do presidente dizem que daí até arregaçar as mangas para eleger o governador mineiro vai uma grande distância.

No próprio PT, potenciais candidatos à sucessão de Lula já se movimentam para ganhar o apoio do partido. O movimento mais visível até agora foi desencadeado pelo ministro Tarso Genro (Justiça), que já tentou ser o candidato em 1998, mas a lista das possibilidades é grande: Patrus Ananias, Dilma Rousseff, Marta Suplicy e Jaques Wagner. Por enquanto.