Título: Brasil muda postura e avalia meta para desmatamento
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Internacional, p. A12

Para marcar nova postura no debate internacional sobre mudança climática, o governo brasileiro estuda estabelecer de modo unilateral e voluntário objetivos de redução do desmatamento da Amazônia. Foi o que sugeriu Celso Amorim, ministro das Relações Exterio-res, a três semanas da cúpula do G-8, da qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará parcialmente como convidado. "O Brasil tem que ter uma postura combativa e não defensiva", disse Amorim. "Tem que ter seus objetivos para combater o desmatamento porque isso é uma perda para nós."

A Alemanha, na presidência do G-8 (grupo que inclui EUA, Japão, Canadá, Reino Unido, França, Itália e Rússia) quer compromissos firmes dos emergentes que convidou (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) para lançar um novo acordo obrigatório de redução de gases de efeito-estufa que substituirá o Protocolo do Kyoto.

O Brasil é o quarto maior emissor de gases-estufa do mundo, basicamente por causa do desmatamento na Amazônia, e suas exportações agrícolas vem sendo alvos de acusações de destruir a floresta.

Até recentemente, o governo brasileiro preferia só apontar a culpa dos países industrializados no aquecimento do planeta. Agora, Brasília repensa sua posição no rastro dos recentes relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão que reúne mais de mil cientistas no mundo todo, que fazem previsões alarmantes globalmente.

A destruição da Amazônia tem sido vista como uma das causas do aquecimento global. "Agora está cada vez mais claro que a Amazônia seria não causadora, mas vítima, correndo risco de virar savana e de enorme perda da biodiversidade", disse Amorim.

Ele avisa que o Brasil "assumirá responsabilidades", mas diferenciadas, proporcionais, "que não podem comparar com quem está poluindo o planeta nos últimos 200 anos". Mas alertou: "Agora, metas que sejam objetos de punição internacional é outra coisa" - ou seja, o Brasil não aceita.

A Alemanha quer que o G-8 aprove assistência financeira para o Brasil e outros países em desenvolvimento combaterem o desmatamento das florestas. Segundo o britânico Nicholas Stern, que publicou relatório sobre o clima em 2006, as nações ricas deveriam oferecer US$ 15 bilhões por ano para ajudar na preservação de florestas.

O Brasil já propôs a criação de um fundo internacional para os países industrializados darem dinheiro para combater o desmatamento. Mas Amorim é incisivo: "Sugerimos incentivos, mas recebendo ou não dinheiro, devemos evitar o desmatamento da Amazônia, porque é de nosso interesse".

As pressões sobre Brasil, China e Índia foram atenuadas, porque o próprio G-8 não se entende. Os EUA são acusados de tentar esvaziar o objetivo alemão. Um trecho do comunicado final sobre a luta contra a mudança climática que deveria ser qualificada de "dever" pelos G-8 foi cortada pelos representantes americanos. Os EUA tampouco aceitam uma fórmula pela qual o G-8 se declara "profundamente preocupado" com a evolução do clima. O país quer só "tomar nota" dos relatórios do IPCC.

O presidente George W. Bush, em seu último telefonema ao presidente Lula, pediu apoio brasileiro a sua posição contra a fixação de metas de redução de gases-estufa.

EUA e Austrália não assinaram o Protocolo de Kyoto, que dura até 2012 e obriga 35 países desenvolvidos a cortar suas emissões em 5% abaixo dos níveis de 1990 nos próximos seis anos. Mas esses industrializados reclamam que as nações signatárias representam apenas um terço das emissões globais.