Título: Governos divergem sobre como combater as mudanças climáticas
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Internacional, p. A12

Todos concordam em combater o aquecimento global, mas ninguém se entende em como fazê-lo. Na primeira reunião de governos após os relatórios da ONU sobre mudanças climáticas, não houve consenso nenhum sobre pontos fundamentais em relação à redução de emissões de gases-estufa.

Desde o dia 7, diplomatas de 166 países discutem na Alemanha o futuro do Protocolo de Kyoto - o chamado regime pós-2012, quando expiram as metas de compromisso de redução de emissões dos países industrializados. Também tentam atualizar pontos de outro acordo importante, a convenção sobre mudanças climáticas.

A reunião em Bonn terminam amanhã. Pelo passo da carruagem, decisões significativas parecem adiadas para encontros em Viena, em agosto, ou na Indonésia, no fim do ano. Os holofotes estão direcionados para a reunião do G-8, os países mais ricos do mundo e a Rússia (que também são as nações que mais poluíram no passado), com os cinco emergentes - China, Índia, Brasil, México e África do Sul (grandes poluidores do futuro) em junho, na Alemanha.

"A explicação para não haver progresso aqui em Bonn talvez seja que há outra dinâmica em curso, a dos chefes de Estado", espera Mark Luttes, pesquisador da ONG Vitae Civilis e representando o FBOMS, fórum brasileiro de ONGs. "Parece que todos aguardam as mensagens que virão de cima."

Por ora, nem a idéia da União Européia de cortar emissões em 20% (ou talvez até 30%) até 2020, desde que outras nações ricas a sigam, avançou. Encontra resistência do Japão, por exemplo, que se sente pressionado. No quesito desmatamento, um grupo de países articula um documento a ser adotado em Bali. A polêmica gira em de como medir as emissões. Brasil, UE e Papua-Nova Guiné preferem que a conta seja feita em base nacional; México, Colômbia, Panamá querem que seja feita por projeto.

A proposta brasileira, que países industrializados criem um fundo para que nações em desenvolvimento reduzam suas emissões por desmatamento (sem estar vinculado a créditos de carbono), ainda não andou. As nações ricas, diz uma fonte da delegação brasileira, "sugerem apenas capacitação e assistência técnica". Os países desenvolvidos "não querem nem falar em transferência de tecnologia", prossegue, lembrando o item previsto desde 1992 na convenção do clima.

No começo da semana, nem os países em desenvolvimento pareciam se entender. A Índia liderou um grupo que quer a "estabilização e conservação" das florestas. O Brasil quer foco na "redução das emissões por desmatamento".

Parece debate semântico sobre como deixar as matas em pé. Não é. Estabilizar significa apenas manter o estoque de carbono florestal, ou seja, os países poderiam derrubar florestas nativas e repor o estoque de carbono perdido com reflorestamento, diz Thelma Krug, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, que está em Bonn. "Para fins de clima, não há diferença", esclarece.

"Mas o Brasil entende que a importância de sua proposta está no potencial de promover, por meio de incentivos positivos, a redução do desmatamento em si, com óbvios benefícios ambientais." Incentivos positivos quer dizer, principalmente, recursos financeiros - tema que, até ontem, passou ao largo da negociação em Bonn.