Título: S&P eleva nota do Brasil e dólar cai
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Finanças, p. C1

A elevação da nota de risco de crédito de um país ao grau de investimento reduz seu custo de captação, pois sinaliza aos seus credores que o risco de calote é pequeno, e ajuda a apreciar o câmbio. Mas, não significa necessariamente maiores taxas de crescimento econômico. Foi o que frisou a analista Lisa Schineller, da Standard & Poor's, em entrevista ao Valor. Ela subiu ontem a nota da dívida externa brasileira de longo prazo de "BB" para "BB+", apenas um degrau abaixo do grau de investimento, e da dívida interna de longo prazo de "BB+" para "BBB", já no grau de investimento.

A decisão da S&P derrubou o dólar 1,46%, para R$ 1,9540, o menor nível desde 16 de janeiro de 2001, apesar de atuações fortes do BC, que comprou US$ 1 bilhão somente no futuro. O risco-Brasil despencou. Medido pelo índice EMBI+, do JPMorgan, caiu 1,33%, para 148 pontos básicos. Se medido pelos prêmios pagos no mercado de "swap" de crédito (Credit Default Swap) de vencimento em cinco anos, foi ao recorde histórico de baixa de 65,5 pontos básicos, uma queda de 4,7%. O câmbio e o risco-Brasil têm forte correlação (ver gráfico nesta página). Os juros caíram no mercado futuro.

A Fitch Ratings se adiantou e, na semana passada, elevou a nota da dívida externa do Brasil de "BB" para "BB+". Mas, manteve a perspectiva da nota estável. A Standard & Poor's passou à frente, pois a perspectiva da nota é positiva, o que significa probabilidade de 70% de a nota subir em um período de seis meses a dois anos. Na média, o "upgrade" acontece em um ano e dois a três meses, conta. A analista fez questão de destacar que os números foram levantados com base em experiências passadas da S&P e que não necessariamente isso vai acontecer com o Brasil.

A aprovação das reformas tributárias ou da Previdência, por exemplo, poderiam apressar o processo de elevação do rating, segundo explicou ela. "Mas, se as reformas não forem aprovadas, isso não significa que o Brasil não terá suas notas elevadas", destacou. Agora, a Moody's, entre as três principais agências de rating, é a dá a pior nota ao Brasil: "Ba2", dois degraus abaixo do grau de investimento e ainda com perspectiva estável.

Como a dívida interna já é grau de investimento pela S&P, os fundos mais conservadores, que só têm autorização de seus cotistas para investir em papéis de baixo risco de crédito - como por exemplo alguns fundos mútuos, de pensão e de seguradoras americanos - já poderão comprar papéis em reais no mercado interno. Segundo a analista, o grau de investimento amplia o leque de investidores que podem aplicar em um ativo.

Para o mercado, a decisão de Standard & Poor's veio tarde. "Finalmente, agora estamos de acordo", diz John Welch, analista da Lehman Brothers, para quem o Brasil já merecia o "BB+" há anos. Segundo ele, o mercado já considera o Brasil grau de investimento e seus prêmios de risco já estão em níveis próximos de países grau de investimento. O México, por exemplo, tem prêmio do CDS de cinco anos em torno de 31 pontos básicos.

Lisa Schineller destacou que, na sua visão, o acúmulo de reservas internacionais tem efeito positivo, pois reduz a vulnerabilidade do país a choques externos, funcionando como um colchão de liquidez disponível. Ela não nega os custos fiscais, mas considera que eles são menos importantes para o rating.

Segundo Lisa Schineller, a elevação na nota de crédito do país reflete também a redução na vulnerabilidade fiscal do país. "Todos os indicadores melhoraram, como por exemplo a dívida externa em relação à exportações e a dívida total em relação ao Produto Interno Bruto", diz.

O grau de investimento para a dívida interna, segundo ela, foi concedido por causa do forte desenvolvimento do mercado interno de capitais, a capacidade do governo de manter a inflação sob controle e de emitir papéis de vencimento em dez anos com taxas de juros prefixadas. "É verdade que esses títulos ainda têm pouca liquidez, mas já significam uma avanço", disse ela.

Lisa Schineller lembrou que o governo está conseguindo ampliar o prazo médio de vencimento da dívida interna e reduzir a parcela da dívida indexada aos juros ou ao câmbio e aumentar a parcela prefixada. O crescimento no crédito imobiliário de 20% e a força da bolsa, com um número crescente de empresas emitindo ações pela primeira vez, também são sinais do desenvolvimento do mercado interno de capitais, disse Lisa Schineller.

O acesso crescente ao capital externo, embora seja um reflexo da forte liquidez internacional, ajuda a reduzir a vulnerabilidade do país, afirmou ela. Para Lisa Schineller, são especialmente saudáveis os números do balanço de pagamentos que mostram um aumento no saldo da balança comercial acima do esperado e no ingresso de investimento externo direto ao país.

O tamanho da dívida total do governo e o peso da parcela indexada aos juros futuros, a pouca flexibilidade de gastos no orçamento e os elevados gastos correntes, que barram que parte da arrecadação seja usada para pagar dívidas, além de impedimentos estruturais que dificultam o crescimento e o investimento, atrasam a melhoria no rating brasileiro, segundo a analista.