Título: Governo espera nova melhora da nota em 2008, com PIB crescendo 5%
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Finanças, p. C2

A robustez das contas externas e a melhora da classificação de risco da dívida brasileira, promovida ontem pela agência Standard and Poor's (S&P), tornam inevitável a valorização do real frente ao dólar. A economia terá que conviver com essa nova realidade, que vem afetando outros países emergentes. A advertência foi feita ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que convocou entrevista para comentar a decisão da S&P.

"É inevitável que haja valorização do real à medida que se aproxima o grau de investimento", disse Mantega, mencionando países emergentes, como México e Índia, também assistiram à valorização de suas moedas a partir da melhora da classificação de suas dívidas. "Não dá para ter um país mais seguro com moeda desvalorizada."

O ministro acredita que o Brasil receberá o grau de investimento das agências de risco quando o PIB estiver crescendo 5% ao ano, o que, segundo sua expectativa, acontecerá no próximo ano. Ele afirmou que a decisão da S&P mostra que os fundamentos da economia brasileira estão cada mais sólidos. O risco de o governo não honrar o pagamento das dívidas interna e externa é cada vez menor, o que, na prática, vem diminuindo o custo de captação de recursos tanto por parte do governo quanto das empresas. O bom momento atrai investimentos e pressiona a taxa de câmbio para baixo.

"O Brasil está perfeitamente acomodado a uma taxa cambial desvalorizada. Faz parte da nova globalização, que significa uma tendência de valorização das moedas dos países emergentes que têm balanço de pagamentos robusto", afirmou o ministro, reafirmando que o governo manterá o regime de câmbio flutuante. "O câmbio é flutuante. Não posso garantir para que patamar ele vai. Não existe piso nem existe teto."

Mantega descartou a possibilidade de o governo aumentar o nível de exposição da economia brasileira à competição internacional para conter a valorização do dólar. Esta medida - a redução das alíquotas de importação e a eliminação de barreiras não-tarifárias - foi sugerida, por exemplo, pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Na avaliação do ministro, as importações já estão crescendo de maneira "extraordinária". Além disso, a desvalorização do dólar já significa, na prática, que o custo das importações está diminuindo a cada dia.

"(A valorização do real) constitui aumento do salário real e implica no controle da inflação. O ruim seria se estivéssemos abrindo as importações às custas da produção nacional porque, aí, estaríamos diminuindo o nível de emprego", comentou o ministro, que fez questão de diferenciar o atual processo de valorização da moeda nacional do ocorrido nos primeiros anos do Plano Real. "O que vivemos de 1994 a 1998 foi uma valorização artificial porque a moeda era praticamente fixa, sustentada com juros estratosféricos. Apesar de o Brasil ter economia fraca, tinha moeda artificialmente forte."

Mantega sustentou que a taxa de câmbio não está atrapalhando, "neste momento", a produção nacional. Afirmou que os setores tradicionalmente exportadores estão cortando margens de lucro e que outros, como os produtores de móveis, eletroeletrônicos e automóveis, estão redirecionando suas vendas ao mercado interno. Ele refutou a tese de que o câmbio estaria provocando a "desindustrialização" da economia.

Mesmo reconhecendo que a atual valorização é uma tendência natural, Mantega informou que o governo coibirá "abusos de competição", tomando medidas como o aumento das alíquotas de importação aplicado recentemente sobre confecções e calçados. Disse ainda que o Banco Central fará intervenções no mercado para combater eventuais "abusos no câmbio", acumulando mais reservas internacionais. "A acumulação de reservas torna o país mais sólido."

Para minorar os efeitos do câmbio sobre os setores menos competitivos, o governo, de acordo com o ministro da Fazenda, estuda a desoneração da folha de pagamentos. Mantega disse que a medida envolve a renúncia de "bilhões de reais", por isso, o governo estudando o assunto com cautela para não comprometer as contas públicas.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também comemorou a nova classificação da S&P. "O fato de a dívida interna já ter atingido o grau de investimento é uma conquista histórica e reflete, além da melhora dos fundamentos fiscais, o sucesso da política monetária em controlar a inflação e ancorar as expectativas para os próximos anos", disse.