Título: Vale negocia siderúrgica no Maranhão
Autor: Felício, César e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, Empresas, p. B7

A Vale do Rio Doce aceitou negociar com o governo do Maranhão a transferência do projeto siderúrgico no Maranhão, em sociedade com a chinesa Baosteel, da ilha de São Luís para o município de Bacabeira, no continente, a 50 km da capital. Ao ceder, a Vale encerra um impasse. Impedir a instalação da usina de aço na capital do Estado foi uma promessa de campanha do governador Jackson Lago (PDT), já que implicaria no deslocamento de cerca de 14 mil pessoas que vivem de atividades de subsistência, além de custos ambientais pesados, pelo uso do carvão como fonte energética.

Ontem, em São Luís, Agnelli reuniu-se com o governador para anunciar a sua disposição em conversar. Mas alertou que a sua visita marcava o começo, e não o final, do processo de negociação. Agnelli disse a Lago que o sócio chinês ainda não havia dado a concordância para a transferência do empreendimento e que negociadores da Baosteel devem ao país chegar na próxima semana.

Segundo o secretário adjunto de Indústria e Comércio, Fernando Dualibi, o governo do Maranhão pode oferecer um novo plano de incentivos à Vale e a seus sócios, já que a transferência da obra para Bacabeira implicará em aumento de custos. "Algo poderá ser feito para tornar a Maranhão Steel competitiva. Vamos acrescentar novos benefícios", disse Dualibi, sem detalhar o que poderia ser oferecido. Ele acrescentou que poderá ser acertado um pacote de investimentos, em que o Estado facilitaria o prosseguimento das obras da hidrelétrica de Estreito, em troca do apoio da Vale a projetos de desenvolvimento sustentável ao longo da ferrovia de Carajás e acesso dos produtores maranhenses de biodiesel à sua infra-estrutura logística.

"Foi uma reunião construtiva, importante e madura em que, de maneira aberta, se discute a importância de uma siderúrgica para o desenvolvimento econômico do estado, ao mesmo tempo em que se considera a necessidade de um exame correto da realidade ambiental do local onde essa siderúrgica for instalada", afirmou Jackson Lago, em declaração distribuída pela assessoria.

Lago confirmou que o tema da siderúrgica - um projeto de dimensão grandiosa, de até US$ 4 bilhões - foi tratado de forma conjunta com outros projetos da Vale e do governo local e mencionou a necessidade de ações de compensação em Estreito. Na reunião foram tratados outros assuntos como a realização de projetos na área de educação e ambiental. O governo deve realizar parcerias com envolvendo o município de Estreito, que abrigará a hidrelétrica na qual a Vale é uma das principais acionistas. "O desenvolvimento econômico do Maranhão tem muito a ver com as decisões da Vale, que não é mais estatal, mas é brasileira e tem compromisso com o social", destacou Lago.

Para Agnelli, conforme a assessoria da empresa, "o projeto ainda está sob avaliação e a decisão final do local onde a siderúrgica será construída caberá aos investidores majoritários". A Baosteel terá o controle do empreendimento, que vem sendo discutido desde 2002.

Em declaração recente sobre as dificuldades encontradas para se instalar o projeto em São Luís, Agnelli disse que a Vale estava avaliando alternativas de outros locais, caso não se chegasse a um entendimento no Maranhão. Disse, no entanto, que a decisão final, seria da Baosteel.

Agnelli explicou que a escolha de São Luís se deu por razões de custos mais baixos, uma vez que já existia infra-estrutura portuária e ferroviária no município. Mencionou a estrada-de-ferro São Luís-Carajás, da mina de ferro Carajás até o porto, em São Luís. Para o executivo, a transferência do projeto para Bacabeira, como deseja o governador do Maranhão, demandaria um gasto adicional entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões por conta da logística. "É um número muito grande", destacou o executivo.

No mês passado, um representante da Baosteel, Xi Zhiing, que integra a equipe da estatal chinesa que cuida do projeto, esteve no Brasil e viajou a São Luís para retomar as negociações com o novo governo do Maranhão para implantar a usina de 7,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, voltadas para exportação, em parceria com a Vale. Ele se reuniu com as autoridades maranhenses para averiguar qual a atitude delas em relação ao projeto avaliado entre US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões.

Após o encontro, Xi informou que "a execução do empreendimento estava nas mãos do governo do Maranhão". Segundo ele, a Baosteel aguardaria pela resposta do governo sobre a questão do local. "Trabalhamos nos estudos estudos de viabilidade, mas não temos o terreno. Isso é fundamental para fazer o projeto, do qual nunca desistimos".