Título: Mais risco, mais prazo
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2007, EUI & Investimentos, p. D1

A forte procura por fundos multimercados - no ano, a captação líquida está em R$ 10,645 bilhões até dia 14 -, impulsionada pela queda dos juros e a busca por diversificação, está permitindo aos gestores criar carteiras diferenciadas, com maior risco e mais prazo de carência para resgates. Além disso, fundos de risco antigos também estão recebendo recursos de investidores interessados em ganhar mais em um cenário em que o juro dos DIs e renda fixa garantem menos de 1% ao mês.

O Valor fez uma pesquisa dos fundos de maior risco, que levam no nome os termos "retorno total", "retorno absoluto" ou "agressivos", usando o site Fortuna e identificou 20 carteiras, seis das quais criadas nos últimos 12 meses. Destas, quatro - Fator, Santander, Schroder e Sul América - têm menos de seis meses e não possuem inclusive histórico de risco (Value at Risk ou VaR). Neste ano, essas 20 carteiras captaram R$ 2,368 bilhões até dia 11, acumulando um patrimônio de R$ 4,579 bilhões. A maioria tem carência para resgate, de 30 e 60 dias, prazo que tende a se ampliar, avaliam especialistas. Na semana passada, a Mauá Investimentos, do ex-Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, lançou uma carteira de 180 dias para resgate, a maior carência entre os fundos brasileiros. A Gávea Investimentos, do ex-presidente do BC Armínio Fraga, que inaugurou a carência em multimercados, exige 90 dias.

"É interessante como hoje os investidores estão mais dispostos a aceitar fundos com carência, coisa impensável há dois anos", afirma Aline Sun, superintendente da área de fundos de fundos do Unibanco. "Exigir 30 dias para resgate já era visto com maus olhos, mas depois veio o Gávea, quebrando paradigmas com 90 dias e agora o Mauá, com 180, e todos captando bem", afirma ela, lembrando que, com a enxurrada de aplicações, muitos multimercados atingiram seus limites de patrimônio e estão fechados para captação, o que induz os clientes a aceitar essas novas carteiras com carência.

O desempenho também é um atrativo, uma vez que o mercado está indo muito bem este ano e todas as estratégias de multimercados estão ganhando. No ano, o rendimento médio das carteiras mistas até dia 14 era de 7,66%, para 4,42% dos DIs e 5,49% dos renda fixa. Nesse ambiente, fundos que arriscam tendem a ganhar mais, aproveitando o cenário mais previsível. "Existe uma tendência de fundos mais arrojados e carências mais longas porque o juro está caindo, o mercado está bom e o cliente aceita mais risco, pagando o preço de adiar o resgate", afirma Aline.

Há uma tendência de os fundos mais agressivos serem mais procurados pelos investidores, afirma Marcelo Giufrida, responsável pela área de gestão de recursos do BNP Paribas. "E está tão grande a procura e a falta de fundos que os investidores aceitam carência maior", afirma ele, explicando que o investidor está mais preocupado com a performance do que com o prazo de resgate. No caso do BNP Total, o fundo, criado há um ano e meio, captou R$ 295 milhões neste ano - mais da metade do patrimônio, de R$ 507 milhões -, mesmo com uma carência de 30 dias para resgate.

Giufrida diz que há um cuidado maior em alertar o investidor para o fato de que esses fundos apresentam um risco maior de perdas caso o mercado mude bruscamente. "Tentamos mostrar os pontos relevantes de diferença em relação aos demais fundos", diz ele.

A procura por fundos mais agressivos e com carência é uma tendência natural do setor de multimercados brasileiro, que começou com uma cultura de overnight, em que as carteiras tinham resgate diário, e que aos poucos vai evoluindo e se ajustando ao perfil de mais longo prazo, afirma Guilherme Menezes, da Banif Nitor Asset Management. "Lá fora, a cota é mensal, divulgada 15 dias depois do fim do mês", lembra ele. "Teremos de nos acostumar não só com mais risco como também a não olhar mais o CDI como referencial, uma vez que ele caiu demais e deixou de ser o objetivo dos investidores", afirma. Com o mercado mais sólido, as casas podem criar fundos com liquidez mais reduzida, o que ajuda também na gestão. "Esse é o sonho de todo gestor, saber que não vai ter resgate de uma hora para outra para complicar as estratégias".

A diferenciação de estratégias, com fundos específicos de maior risco, é positiva, pois oferece mais alternativas para o investidor e para os gestores de fundos de fundos, afirma Dany Rappaport, da Investport. "O risco é maior, mas cabe ao comprador desses produtos e a quem dá suporte a ele fazer a avaliação", explica. Para ele, o médio investidor deve dar preferência para fundos de fundos, onde é possível diluir o risco das carteiras mais agressivas com um valor menor. "Em muitos casos, o investidor vai ter de aplicar mais de R$ 100 mil apenas em um fundo", completa ele.

Entre as carteiras que estão atraindo os investidores está o Credit Suisse Absolute 30, carteira que já captou este ano R$ 921 milhões até dia 11. O fundo replica a estratégia do fundo anterior, mas com carência de 30 dias para resgate. "Existe uma procura por maior risco que leva a uma migração dos fundos tradicionais de renda fixa e DI para multimercados e outros de renda variável", afirma Mauro Bergstein, diretor da área de gestão do Credit Suisse. A procura por risco fez a gestora criar ainda o Total, um fundo mais agressivo com carência de 60 a 90 dias e que chama a atenção pelo rendimento, de 28,55% no ano. A carteira surgiu em setembro do ano passado depois de um estudo que detectou a existência de poucos fundos de alta volatilidade. "O que havia eram fundos com um risco de perda de 5% a 6% ao ano, por isso pensamos em um que chegasse a 10%", afirma Natan Finger, gestor de renda variável do Credit Suisse, acrescentando, como comparação, que o Ibovespa tem uma volatilidade de 20% ao ano.

Finger admite, porém, que o Total foi beneficiado por um período muito positivo do mercado. "A carteira está com 99% de acerto em um período móvel de 21 dias, isso não é sustentável, mas mesmo voltando para uma média de 60% de acerto estará com um retorno bom", diz.