Título: Ajuste econômico reduz riscos de novas recessões, diz Pastore
Autor: Neumann, Denise
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Brasil, p. A3

O ajuste macroeconômico feito nos últimos anos trouxe um duplo benefício ao setor produtivo: aumentou a capacidade de crescimento do país e reduziu o risco de uma recessão. A avaliação otimista - mas que também embute críticas - é do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore e foi apresentada, ontem, durante sessão do XIX Fórum Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae) que discutiu o que falta para o Brasil crescer mais - e de forma sustentada.

Na avaliação de Pastore, o ajuste macroeconômico (capitaneado pelo setor externo) permitiu uma queda nas taxas de juros e, pela primeira vez em muitos anos, começa a tornar o retorno do investimento produtivo mais atraente para o empresário do que o ganho antes obtido pela simples aplicação de recursos no mercado financeiro. "Diante de uma taxa real de juros mais baixa e cadente, empresários que cogitem ampliar a produção de bens e serviços são menos tentados a auferir ganhos no mercado financeiro e, conseqüentemente, são mais tentados a realizar mais investimentos na formação bruta de capital fixo", registrou Pastore no texto que subsidiou sua intervenção no Fórum Nacional.

Na leitura positiva que Pastore faz do atual momento da economia brasileira, o ajuste feito pelo país na conta corrente (com o superávit expressivo na balança comercial, mas principalmente pela redução da dívida externa) abriu espaço para a redução de vários riscos, entre eles o de uma abrupta desvalorização cambial. "A dívida externa menor, a baixa concentração de vencimentos externos e a redução da dívida pública atrelada ao dólar deixam a possibilidade de uma depreciação cambial muito próxima de zero", avalia Pastore.

Assim, como no dilema do que vem primeiro (o ovo ou a galinha), um cenário sem riscos de depreciações cambiais também torna mais baixo o risco de um aumento inesperado da taxa de juros, "o que reduz o risco de recessões que diminuam os retornos esperados pelos investimentos, elevando suas taxas de retorno", observa Pastore.

Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, a perspectiva de um retorno maior com investimentos produtivos é uma das razões que explica o aumento da formação bruta de capital fixo (FBCF), indicador que mede a elevação dos gastos em construção civil e em máquinas e equipamentos. Aqui aparece uma nova ajuda da valorização cambial, pois o dólar mais barato também barateou a importação de bens de capital.

Nas contas de Pastore, o aumento da formação bruta de capital fixo (de quase 10% ao ano) e uma retomada dos ganhos de produtividade (que já estaria em torno de 1% do Produto Interno Bruto considerando o critério de produtividade total dos fatores e não apenas a do trabalho) ajudaram a elevar o PIB potencial do Brasil para 3,8% - antes, ele estimava esse indicador em apenas 2,7%.

"Temos um bom cenário e bons estímulos, mas a taxa de investimento ainda é muito mais baixa que no passado e nossa produtividade também cresce pouco. Por isso, esse cenário favorece, mas não garante um crescimento sustentado", concluiu Pastore, recomendando forte empenho do governo em cortar gastos e fazer reformas ainda pendentes, como a tributária (focada na redução da carga tributária para as empresas), e outra que removessem riscos regulatórios. Além disso, ele defende maior liberalização comercial, com redução e não aumento das tarifas de importação. "Falta muito para chegarmos no ritmo dos Brics", acrescentou.

A menção aos Brics - sigla que simboliza Brasil, Rússia, China e Índia - foi uma "cutucada" no ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, presente à sessão e que falou antes de Pastore. Para o ministro, o ajuste macroeconômico dos últimos anos (e que ele reconhece que começou antes da era Lula), deixa o país em uma perspectiva de crescimento melhor do que a dos demais Brics.

O tom positivo também foi seguido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que enfatizou o aumento de 8,4% na massa salarial, considerando a comparação entre março de 2007 e igual período de 2006. "Estamos crescendo pelo aumento da renda do trabalhador, o que mostra a solidez desta trajetória", argumentou Meirelles.

Bernardo reconheceu a necessidade de prosseguir no ajuste macroeconômico e ressaltou que o governo vem fazendo - e vai ampliar - a desoneração tributária e também a proposta de reforma tributária que está em negociação com o Congresso e governadores, bem como os projetos de regulação das agências, do setor de gás e da concorrência.

O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, insistiu na necessidade de que o governo controle suas despesas e, especialmente, dê atenção ao crescente rombo da Previdência, que avança, principalmente, pelas despesas associadas ao aumento do salário mínimo.