Título: Saúde negocia com Abbott redução de preço do Kaletra
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Brasil, p. A4

As negociações do governo com a companhia farmacêutica americana Abbott para a redução de preço do antiretroviral Kaletra podem ser concluídas em breve, indicou ontem o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Ele contou que o próprio laboratório americano propôs redução voluntária de preço, que "coincidiu" com o anúncio do governo de quebrar a patente do medicamento contra a aids Efavirenz, do laboratório americano Merck.

Em 2005, o governo chegou a ameaçar quebrar a patente do Kaletra, por falta de acordo, mas nunca foi adiante. Agora, o ministro estima que as perspectivas das negociações são boas, mas evitou falar do percentual de corte do preço, porque ainda estariam sendo comparados os preços cobrados em outros países, por exemplo.

Temporão pediu para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fazer o discurso brasileiro ontem na assembléia anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), para ilustrar a importância das questões de saúde pública na politica externa brasileira.

Amorim reiterou que a quebra de patente da Merck foi "inteiramente consistente" com as regras internacionais sobre propriedade intelectual e rechaçou certas críticas. "Algumas manifestam preocupações com o impacto negativo sobre investimentos. Mas isso leva a questão: que tipo de investimento? Não em produção de medicamentos. Muito menos em pesquisa e desenvolvimento que leve a avanço tecnológico, já que, como todos sabemos, essas atividades são reservadas para as centrais das grandes companhias farmacêuticas ou, no máximo, para suas filiais em outros países desenvolvidos."

O ministro manifestou "confiança" em que um grupo de trabalho da OMS sobre propriedade intelectual, inovação e saúde pública "não apenas confirme as flexibilidades para países em desenvolvimento, mas também encontre maneiras inovadoras para tratar da questão de melhor e mais livre acesso à saúde para os que mais necessitam".

De volta a Paris, o ministro disse que não ouviu posições contrárias à do Brasil, no tempo em que permaneceu na assembléia da OMS. Fontes americanas observaram que um recente acordo entre democratas e a Casa Branca, para dar fôlego à agenda comercial do presidente George W. Bush, inclui provisões para acesso mais rápido a remédios genéricos nos países pobres. Isso apesar da forte oposição do lobby farmacêutico.

O ministro Temporão disse ao Valor, por telefone, que o Brasil reafirmou o interesse em cooperar com outros países na área da saúde, na África e América Latina. E que a Bolívia quer copiar o sistema de saúde brasileiro.