Título: CPI recebe gravação que mostra falha de comunicação com avião do papa
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Política, p. A6

A oposição começa a fazer uso das descobertas feitas pelos integrantes da CPI do Apagão Aéreo. Ontem, o deputado Efraim Filho (DEM-RN) entregou à comissão uma gravação das diversas tentativas feitas pelo Boeing 777 da Alitalia, que levava o papa Bento XVI de volta ao Vaticano, de se comunicar com a torre do Centro de Controle de Área de Recife (ACC-RF). A revelação foi feita durante o depoimento à CPI do delegado Renato Sayão, da Polícia Federal, chefe do inquérito que investiga a queda do avião da Gol, em setembro de 2006, depois de chocar-se no ar com um jato particular.

Segundo relato de Efraim Filho, durante vários minutos, houve falhas no sistema de comunicação da torre de Recife. O papa Bento XVI demorou a conseguir dar a última mensagem ao povo brasileiro, como é praxe nas visitas do pontífice. "O que podemos afirmar, ainda que previamente, é que o avião do papa ficou às escuras por vários minutos às 23h37 de domingo", disse o deputado.

A tentativa de contato teria sido feita a 350 quilômetros da costa brasileira, dentro do espaço aéreo nacional. As tentativas do avião do papa só obtiveram sucesso depois de um avião da TAM, que trafegava na região, interceptar o sinal e fazer contato com a torre.

Feito o contato, o papa pode deixar a mensagem ao presidente e ao povo brasileiro. Falou por dois minutos, em português. Segundo Efraim Filho, o avião teria ficado 23 minutos sem qualquer contato com a torre. "Isso mostra que nosso sistema é falho e tem regiões obscuras. O avião do papa ficou à deriva", disse. No início da noite de ontem, a Aeronáutica divulgou nota na qual rejeita a versão do deputado.

Os oficiais dizem que "não houve falha alguma entre a aeronave" do papa e o centro de Recife. Dizem que o piloto italiano tentou contato e deu a entender que o papa falaria por 23 minutos, já que na mensagem disse "two three minutes", em inglês. Mas que a confusão foi desfeita e o Bento XVI pôde falar. Ainda segundo a nota, demorou oito minutos entre o pedido do piloto e o início da mensagem do pontífice. Efraim conseguiu a gravação com um rádio amador que captou o diálogo.

A revelação aconteceu em meio às cinco horas de depoimento do delegado Renato Sayão. O policial federal apontou os pilotos do jato Legacy e os controladores de vôos como co-responsáveis pelo acidente. "Houve falha dos pilotos ao desligarem os equipamentos de controle de vôo. Isso levou ao acidente. Mas há responsabilidade do controle que deveria evitar o acidente. Se o piloto falha, o controlador deveria tê-lo alertado. Há uma divisão da culpa", disse Sayão.

Por 40 minutos, o Legacy ficou com os dois equipamentos fundamentais para o jato aparecer nos radares de vôo desligados. Não houve falha da máquina. "A perícia feita nos Estados Unidos mostra que os equipamentos estavam perfeitos", disse Sayão, que já pediu o indiciamento dos pilotos norte-americanos.

Sobre os controladores, embora eles não tenham sido alvo de investigação de Sayão (cabe à Aeronáutica analisar a responsabilidade deles), o delegado aponta quatro pecados graves cometidos pelos servidores: 1) ausência de um plano de vôo claro para o Legacy. O procedimento adotado com o jato desrespeita a legislação em vigor; 2) Os controladores não corrigiram a altura do jato, que voava a 37 mil pés e deveria ter descido para 36 mil pés no meio da trajetória, justamente para não chocar com outras aeronaves; 3) Se houve perda do sinal dos equipamentos de navegação, os controladores deveriam ter tomado providências emergenciais. Nada foi feito; 4) Na transferência do controle do vôo do centro de Brasília para o centro de Manaus, foi informado que o jato voava a 36 mil pés (e não 37 mil pés, como realmente trafegava).

No Senado, a CPI do Apagão Aéreo começa a tomar forma. Ontem, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), promotor, foi indicado relator da comissão, que será instalada na quinta-feira, às 10h. ACM vai presidir a sessão de abertura da CPI por ser o mais idoso entre os membros indicados para compor a comissão.

Os demais integrantes do DEM são: José Agripino (RN) e Antonio Carlos Magalhães (BA) Do PSDB, são Mário Couto (PA) e Sérgio Guerra (PE). O PMDB indicou Wellington Salgado (MG), Gilvan Borges (AP) e Leomar Quintanilha (TO). Os governistas: Tião Viana (PT-AC), Sibá Machado (PT-AC), Sérgio Zambiasi (PTB-RS) e Renato Casagrande (PSB-ES). (Colaborou Raquel Ulhôa)