Título: Indústria da UE quer pôr mais economia na parceria com o Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Internacional, p. A8

A Confederação das Empresas Européias proporá hoje à indústria brasileira trabalhar juntos e com urgência para tentar agregar conteúdo econômico na parceria estratégica que a União Européia (UE) pretende propor ao Brasil.

A indústria européia considera insuficiente uma parceria com foco central em aspectos políticos e de cooperação, diante do peso econômico existente e "sobretudo das enormes possibilidades" de incrementar os negócios bilaterais.

Carlos Gonzalez Finat, diretor-adjunto de relações internacionais da confederação patronal, chamada BusinessEuropa, chega hoje a São Paulo para contatos com CNI, Fiesp e Coalizão Empresarial.

Ele quer explorar uma série de temas para "colocar economia" na proposta de parceria, que a UE deve apresentar ainda este mês. "Até agora trabalhamos com o Brasil no âmbito multilateral, na OMC, e no regional, no Mercosul, mas há questões em que podemos colaborar no bilateral, como questões aduaneiras, barreiras não tarifárias, e também biocombustível."

Finat exemplificou que a parceria estratégica oferecida pela UE à Índia incluiu um componente econômico importante, com cooperação setorial em têxteis, transporte marítimo e outros, além de reuniões de alto nível entre os setores privados, paralelas aos encontros ministeriais mais políticos.

"Foi por esse canal dos empresários que resultou a abertura pela UE de negociação para acordo de livre comércio com a India", disse.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, considera "interessante" a intenção européia de elevar o dialogo bilateral, mas não sabe se o projeto será anunciado formalmente na cúpula de 4 de julho entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e autoridades da UE, em Lisboa. "Não é reivindicação nossa, mas é um diálogo político que pode ter repercussão na economia", disse, notando, porém, que um acordo comercial com a UE só ocorrerá no âmbito do Mercosul, e não isoladamente. Finat avalia que a parceria pode ajudar a negociação regional "pois o Brasil tem papel-chave no Mercosul".

Alfredo Valladão, diretor da cátedra Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris e um dos mais reputados analistas de questões UE-Mercosul, nota que a estratégia de Bruxelas é clara: os europeus querem se aproximar dos grandes países emergentes para debater com eles os grandes temas globais e fortalecer o que a UE chama de "multilateralismo eficaz".

É uma estratégia alternativa da UE a tentativa de acordos de integração. Constatando que o diálogo biregional UE-Mercosul não está avançando, Bruxelas procura então se aproximar do maior país da região, no que pode em todo caso ser complementar ao regional.

"A idéia é discutir não só questão econômica, mas política, de segurança internacional. Energia é um tema típico, de interesse de cada país", acrescentou Valladão.

Finat participará ainda de seminário sobre comércio amanhã em Brasília. Ele que cooperação com a indústria brasileira também em torno da Rodada Doha, da OMC.