Título: Investidores prometem resistir à troca
Autor: Marcia Carmo, para o Valor
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2005, Finanças, p. C1

Os 450 mil italianos, maioria de aposentados, que investiram em títulos da dívida argentina prometem ser a pedra no caminho do governo argentino para reestruturar a dívida do país em moratória há três anos. Eles estão apelando ao Congresso Nacional da Itália e pressionando o governo de Sílvio Berlusconi para que intervenham junto a bancos italianos que troquem papéis originais pelos novos bônus da dívida argentina. Em diferentes entrevistas às emissoras de rádio argentinas, representantes dos italianos afirmaram que só aceitam oferta que inclua pagamento de "todo o dinheiro" aplicado. Logo após o anúncio oficial sobre a reestruturação da dívida, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que esse é um problema da Itália. Ao mesmo tempo, cerca de 500 mil investidores individuais argentinos espalharam e-mails pregando a nâo adesão à proposta do governo. Diz o texto, assinado pela Associação de Lesados pela Pesificação e pelo Default, que os novos títulos têm uma base legal ainda mais frágil do que os anteriores, já que estão sendo lançados por decreto, e não por lei, como foram os bônus em default. Eles consideram que o governo não melhorou sua oferta em nenhum momento, e assim como os italianos dizem que vão resistir até conseguir o pagamento integral do que investiram. Entre os analistas havia, porém, mais otimismo do que ceticismo, depois que os alemães, por exemplo, decidiram anunciar que aceitam a oferta argentina, por considerar que o governo não vai melhorá-la. Na opinião do economista Jorge Vasconcellos, da consultoria Fundação Mediterrânea, o "efeito Brasil" foi fato fundamental para que a proposta merecesse melhorias, nos últimos seis ou sete meses. Ele explicou que quando a taxa de risco-país do Brasil começou a cair, no ano passado, provocou a queda no mesmo indicador dos países emergentes em geral. Tal resultado provocou a queda dos juros e o efeito na proposta de reestruturação da dívida argentina, que antes era limitada a deságio de 75% e agora está entre 63% e 68%. Depois da apresentação dos detalhes dessa troca de papéis na Argentina, autoridades do Ministério da Economia partem para um "road show" em diferentes países. O objetivo é tentar convencer os indecisos e conseguir a maior adesão possível. Além dos argentinos, que representam 37% do total, os outros investidores que sofreram com o calote estão nos EUA (33%), na Itália (16%) e em outros países, como Alemanha e o Japão (14%). Para Lavagna, o próximo passo será desenvolver uma relação "madura" com o FMI - cuja revisão do acordo com a Argentina está suspenso desde agosto, apesar de o país estar honrado a dívida com o organismo de crédito - e voltar a ser "confiável" e a atrair investimentos. (MC)