Título: Empresas reclamam e buscam saída no aumento da importação
Autor: Durão, Vera Saavedra e Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Finanças, p. C2

Aumentar a importação para, com as despesas em dólar, equilibrar a perda de receita nas exportações. Esta é a receita comum de duas médias empresas do setor têxtil do Estado do Rio, a Sinimbu S.A. e a Linifício Leslie para driblarem o cambio valorizado. "Estamos exportando emprego", lamenta Carlos Boecqe, diretor da Sinimbu, ressaltando que a empresa já fez dois repasses de preços este ano e que não há mais espaço para mexer nessa variável.

A Sinimbu é uma fabricante de fitas elásticas e rígidas para aplicações que vão da moda íntima à indústria automobilística, localizada em Nova Friburgo. Em 2005 ela exportou US$ 3 milhões. No ano passado, por conta do real valorizado, vendeu para clientes internacionais apenas US$ 12,8 milhões. Em compensação, no mesmo período, as importações, especialmente da China, passaram de US$ 400 mil para US$ 1,2 milhão. O setor têxtil do Rio obteve do governo estadual isenção de ICMS para importar.

Para a Linifício Leslie, uma das últimas fabricantes de tecidos de linho do país, o aumento das importações de fios de linho da China também é o caminho para resistir à valorização cambial. De janeiro a março deste ano a empresa fez três aumentos de preços em dólares, totalizando 24,6%, com o objetivo de compensar a perda de faturamento. Cerca de 50% das vendas da empresa (R$ 28 milhões em 2006) vêem das exportações.

Embora os aumentos tenham sido absorvidos pelos clientes, em uma conjuntura de demanda aquecida, Claudia Lellis, gerente de Marketing da empresa, entende que agora não há mais espaço para novo reajuste.

O impacto do real valorizado na vida das empresas afeta também as estrangeiras com investimentos no país. No setor de mineração, por exemplo, Sérgio Aquino, diretor da Serabi Mineração, empresa inglesa de capital pulverizado, cotada na Bolsa de Londres, que desenvolve projetos de ouro e cobre no país, teme ter de paralisar a atividade da companhia, nas suas minas de Itaituba, Sudoeste do Pará, por conta do dólar desvalorizado.

"A expectativa do setor mineral é boa, o preço do ouro está subindo bem, com a onça cotada entre US$ 620 a US$ 650, mas o que está matando a indústria é o real supervalorizado", diz Aquino. "O cambio bate direto nos custos", destaca, informando que o investimento na mineração é alto e, para bancar o capital, a Serabi, que atua desde 1999 no Brasil, teve que recorrer ao mercado de capitais. "O custo aumentou na mesma proporção que o real se valorizou."

Para Carlos Bertoni, chefe de exploração da canadense Áurea Gold, que está desenvolvendo três projetos de exploração de ouro e cobre no Brasil, o problema não é muito diferente do vivido pela Serabi. A empresa também é uma public company, com ações negociadas na bolsa de Toronto. "Simplesmente, numa empresa como a nossa, cujos recursos vêem da América do Norte, o cambio tem impacto direto no orçamento. Nosso poder de compra fica menor", diz Bertoni. Ele informou que a Áurea Gold está tendo de rever seu orçamento e procurar trazer mais dólares para fazer o mesmo trabalho.

"Os fundos de que dispomos são levantados na bolsa de Toronto. Este ano, estamos programando investir US$ 10 milhões em pesquisa mineral. Para quem quer investir aqui e ganhar dinheiro, o ideal é um dólar mais valorizado".

A contínua valorização do real frente ao dólar está obrigando a indústria eletroeletrônica a rever suas exportações, aumentar preços e buscar insumos no exterior, afirmou Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação das empresas do setor).

"Estamos chegando a um momento em que estamos atingindo um limite na capacidade que a indústria tem de promover alterações em sua forma de produzir para melhorar sua produtividade", disse. Com agências