Título: Mercado interno forte faz analistas elevarem previsões para a alta do PIB
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2007, Brasil, p. A2

Com o forte desempenho das vendas no varejo nos últimos meses e a expectativa de reaceleração da queda dos juros, as previsões de um crescimento mais próximo de 4,5% do que de 4% em 2007 começam a ganhar mais força entre os economistas. O mercado interno é o grande destaque, com o consumo das famílias e o investimento impulsionados pela combinação da expansão da massa salarial, da oferta de crédito e da queda dos juros. Nesse cenário, as previsões do mercado coletadas pelo Banco Central (BC) devem subir nas próximas semanas - hoje, elas apontam para um avanço de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

O crescimento robusto do comércio é o principal fator que leva a revisão das previsões. No primeiro trimestre, as vendas no varejo aumentaram 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Em março, houve alta de 11,5% em comparação com igual mês de 2006, e o resultado foi ainda melhor para o indicador que inclui veículos, motos peças e partes e material de construção: 13,2%.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, diz que o forte desempenho da renda e do crédito explica o crescimento chinês do comércio. Nos 12 meses terminados em março, a massa salarial cresceu 7,2% acima da inflação, nota ele. O crédito também continua a avançar a passos firmes: o saldo das operações com recursos livres acumula alta de 23,5% nos 12 meses até março. "Os sinais de renda e crédito estão muito positivos", afirma Vale, que elevou sua estimativa para o crescimento do consumo das famílias neste ano de 4,3% para 5,1%. Essa revisão levou a MB a mudar sua estimativa para a expansão do PIB de 4% para 4,3%.

O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, também passou a acreditar que a economia vai crescer mais do que 4% neste ano, em boa parte por causa do comércio. A nova estimativa, ainda preliminar, também é de um avanço do PIB de 4,3%. Ele diz que o comportamento favorável dos preços dos bens duráveis (como eletroeletrônicos) favorece a expansão das vendas no varejo. Além disso, os prazos de financiamento seguem em expansão. Borges nota que tem aumentado o prazo das operações para a aquisição de outros bens que não veículos, pulando de 154 dias em março de 2006 para 201 dias em março deste ano. "O consumo das famílias deve crescer mais do que os 4,8% que nós esperávamos", dia Borges, considerando possível um avanço de 5,5%.

A expectativa de que os juros vão cair mais rápido daqui para frente também fez a LCA mudar sua estimativa para o PIB. Borges acredita que a taxa Selic, atualmente em 12,5% ao ano, vai terminar 2007 em 10,25%, e não mais em 10,75%. A valorização do câmbio ajuda a manter os preços sob controle, abrindo espaço para uma redução mais acelerada dos juros, diz ele.

A economista-chefe do ABN-AMRO Brasil, Zeina Latif, já projeta há tempos um crescimento do PIB de 4,5%. Ela diz que o resultado das vendas no varejo sugerem que a expansão da economia neste ano pode até superar essa previsão, mas prefere esperar a divulgação do número do PIB do primeiro trimestre, a ser conhecido em junho, para então revisar ou não sua estimativa. Ela aposta numa alta de 1,5% em relação ao trimestre anterior, na série livre de influências sazonais, bem mais que o 0,9% de outubro e dezembro de 2006.

O economista Caio Prates, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalha com os mesmos 4,5% projetados por Zeina, e não pensa por enquanto em alterá-los. A massa salarial em alta, o crédito farto e os juros em queda impulsionam a demanda interna, ressalta ele, que vê como ponto negativo deste ano o resultado da indústria de transformação. O problema é o câmbio valorizado, que impede uma expansão mais forte desse segmento industrial - ele projeta alta de 3,6%. Segundo Prates, a previsão de crescimento de 4,5% com a indústria de transformação com um desempenho tão modesto se deve à nova metodologia do PIB, que dá mais peso para serviços. "Antes, seria impensável o PIB crescer 4% a 4,5% com a indústria de transformação tão fraca". A indústria extrativa mineral (que inclui a produção de petróleo) deve continuar bem, aumentando 6,5%.

O investimento também deve crescer com força neste ano. No primeiro trimestre, segundo cálculos de Vale, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (produção mais importação, excluindo exportação) aumentou 14,3% em relação a janeiro a março de 2006, enquanto a produção de insumos típicos para a construção civil cresceu bem menos - 2,2%. Com isso, a formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede investimento na construção e em máquinas) aumentou 8,7% no primeiro trimestre, estima ele. Mas o desempenho decepcionante da construção no começo do ano não assusta os analistas. Borges lembra que, em abril, o emprego formal no setor cresceu forte, com um saldo de 30.887 vagas entre contratados e demitidos. Ele avalia que a FBCF pode avançar 12,2% no ano.

O setor externo, a exemplo de 2006, deve contribuir negativamente para o crescimento. Segundo Borges, as importações de bens e serviços devem crescer 20,7%, bem acima dos 5,6% projetados para as exportações. O resultado decorre do câmbio valorizado.