Título: Países ricos vêm ao Brasil caçar talentos
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, EU & Investimentos, p. D6
O Brasil está entrando na rota dos países de primeiro mundo que buscam profissionais estrangeiros como alternativa a escassez de mão-de-obra qualificada, reflexo da baixa taxa de natalidade e envelhecimento da população. Resultado, há vagas sobrando e poucas pessoas para preenchê-las. Para minimizar esse problema, os governos do Canadá, Itália e Austrália vêm intensificando suas ações destinadas a atrair talentos de outras partes.
"Os brasileiros possuem uma boa formação acadêmica, por isso queremos atraí-los", afirma Soraia Tandel, agente de imigração do governo da província de Quebec, que envolve as cidades de Montreal e Quebec. Tanto que há três anos, ela realiza palestras em quase todo o país, divulgando o programa de imigração de Quebec. Sua próxima vinda está programada para o mês de junho, onde visitará São Paulo, Campinas, Salvador e Recife.
Atualmente, existem cerca de 2,5 mil brasileiros morando legalmente no Canadá, principalmente em Montreal. "Mas nossa meta é triplicar esse número". Além do diploma, exige-se que o candidato tenha de preferência até 35 anos e domine o francês (nível intermediário). Também conta como ponto positivo candidatos com filhos.
Em contrapartida, o governo ajuda o profissional a encontrar colocação no mercado - a montar um currículo, fazer uma carta da apresentação e a saber se preparar para uma entrevista -, obter em um ano o visto de residente permanente, além de subsidiar aulas de francês. "Para aqueles que fixarem residência por mais de três anos, será dado o direito de solicitar cidadania e passaporte canadense, e participar da vida política do país", explica Soraia.
Outras vantagens são assistência médica e escolas públicas gratuitas, bem como qualidade de vida e baixos índices de violência. Segundo estimativas do governo local, entre 2005 e 2009 serão criadas 251 mil vagas de empregos - que correspondem a um crescimento de 1,3% ao ano. Há oportunidades de trabalho em diversas áreas, sobretudo para nutricionistas, químicos, matemáticos, economistas, engenheiros e assistentes sociais.
A Austrália já é um destino conhecido dos brasileiros, que há alguns anos mantém uma política de incentivo à "importação" de talentos, como forma de garantir a manutenção das boas taxas de crescimento econômico. Com palestras hoje, em São Paulo, e amanhã, no Rio de Janeiro, o especialista em imigração, Michael Bonney, ministrará palestra onde serão abordados os aspectos que envolvem a vida e o mercado de trabalho no país.
De acordo com Vinicíus Barreto, gerente regional da Viva na Austrália- Southern Cross Alliance-, assessoria de serviços migratórios, só em 2006 houve um crescimento de 35% no volume de estudantes brasileiros no país. E este ano, o programa de imigração do governo australiano oferece 110 mil vistos, voltados principalmente para graduados em engenharia, contabilidade, administração e tecnologia da informação.
"Obter o visto de permanência não é complicado, até porque o país incentiva as pessoas a ficarem", diz. Mas para candidatar-se ao processo de seleção é preciso ter inglês avançado (aprovado no exame IELTS nível 6), idade até 45 anos e experiência profissional no seu campo de atuação. Barreto explica que existem vários tipos de visto para a Austrália. Nesse caso, o candidato se encaixa no "skilled visa". Quem é da área de negócios e pretende ficar pelo menos três anos, precisa do "skilled independent regional".
O visto regional, diz, é mais fácil de se conseguir caso o profissional lide com marketing e vendas, por exemplo". Barreto ressalta que o interesse pelo Brasil deve-se à facilidade de adaptação das pessoas em outras culturas e à a bagagem educacional. "Aqui, muita gente se forma em boas universidades", observa. Prova disso é que pela quarta vez consecutiva a Viva na Austrália- Southern Cross Alliance -- traz ao país o especialista em imigração, Michael Bonney. "A Austrália, nos últimos 10 anos, registrou um crescimento econômico de 4%, em média, o que falta é gente".
Com salários bastante atrativos e uma política mais forte de imigração, o governo local espera atrair um número maior de estrangeiros para as áreas de grande demanda. Em TI, um profissional ganha, inicialmente, em torno de US$ 47,5 mil, por ano. Enquanto engenheiros de mineração e petróleo recebem uma remuneração de aproximadamente US$ 100 mil. Como trabalham em campo de extração, recebem adicionais de casa e alimentação.
No caso da Itália, a busca é por jovens, com idade entre 21 e 30 anos, graduados em enfermagem no período de 2004 a 2006. A Obiettivo Lavoro, empresa de recursos humanos italiana, firmou parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e apresentará nesta quinta-feira, dia 17, o projeto Brasil Itália. No encontro, os participantes conhecerão os pré-requisitos para o processo de seleção, as condições de trabalho, os benefícios concedidos e como funciona o intercâmbio, com duração de até dois anos.