Título: Sai acordo de R$ 7,2 bi de crédito consignado
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2005, Finanças, p. C8

Foi anunciado ontem o primeiro acordo de cessão de crédito consignado do ano e o maior já fechado no mercado. Pelo acordo, o Banco PanAmericano, empresa da divisão financeira do grupo Sílvio Santos, dá ao Bradesco exclusividade sobre até R$ 7,2 bilhões em direitos de crédito. A parceria envolve os contratos de crédito pessoal consignado dos beneficiários do INSS (aposentados e pensionistas). O acordo deve tirar o PanAmericano do centro dos rumores sobre sua eventual venda ao mesmo tempo em que lhe dá gás para entrar no promissor mercado de crédito consignado para aposentados. O INSS tem 22 milhões de beneficiários, que recebem R$ 10,5 bilhões todo mês e podem, teoricamente, tomar em crédito até 30% do salário líquido. Sem esse acordo, disse o vice-presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, o banco não teria patrimônio para entrar no novo negócio. Ao final de setembro, o índice de capital do banco, medido pelas regras da Basiléia, estava em 11,03%, sem folga em relação aos 11% exigidos pelo Banco Central (BC). O índice subiu para 13% no final do ano mas ainda assim era insuficiente. Além disso, acrescentou, assim como outros bancos pequenos e médios, o Panamericano sofreu com a retração dos investidores institucionais, ressabiados pela intervenção no Banco Santos, em novembro. "Foi um movimento generalizado. Os investidores não analisaram caso acaso", disse Palladino, lembrando que o banco pode a qualquer momento apelar para a ajuda do controlador, o grupo Silvio Santos, que tem um caixa de R$ 750 milhões. Mesmo depois da redução do compulsório e estabilização do mercado, informou, apenas metade dos investidores voltaram. Para o Bradesco, é o quinto acordo do tipo, que eleva a R$ 18,7 bilhões o montante de crédito consignado direcionado a aposentados e pensionistas do INSS bancado pelo banco. Desde dezembro, o Bradesco assinou acordos semelhantes com os bancos BMC, Cruzeiro do Sul, Bonsucesso e Paraná Banco. De produção própria, o banco tem R$ 1 bilhão em crédito consignado, principalmente para empregados do setor privado. O vice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo, afirmou que o acordo, além de encaixar-se na estratégia de ampliar as operações de crédito para a pessoa física, segue a orientação do presidente do banco, Márcio Cypriano, e também presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de dar um alívio para as instituições de menor porte, na sequência do caso do Banco Santos. O PanAmericano prevê que a entrada no crédito consignado para beneficiários do INSS permitirá dobrar sua carteira de crédito já neste ano. Como a carteira de crédito fechou 2004 em R$ 2,4 bilhões, a expectativa é conceder outros R$ 2,4 bilhões aos aposentados. Mas, as operações vinculadas ao acordo serão contabilizados nos livros do Bradesco. O banco vai jogar todas as fichas para produzir R$ 200 milhões por mês em crédito consignado. Nesta sexta-feira começa uma primeira etapa da campanha publicitária com Hebe Camargo como garota-propaganda em spots de rádio, anúncios em tevê e peças para a mídia impressa. Apenas no primeiro trimestre serão gastos R$ 20 milhões na campanha. Outros R$ 30 milhões serão investidos até o final do ano na continuação, que poderá ter Agnaldo Rayol e outros artistas como incentivadores. O novo crédito estará disponível neste sábado nas 130 lojas do Panamericano, que terão o horário de funcionamento excepcionalmente ampliado até às 14 horas para atender os interessados. O crédito consignado será oferecido aos aposentados também por 200 promotores e, a partir de fevereiro, nas 35 lojas do Baú. Chamada de Cred Amigo, a linha de crédito consignado para aposentados do PanAmericano terá prazo de até 48 meses e custará de 1,75% a 3,90% ao mês. Os empréstimos vão variar de R$ 300 a R$ 15 mil. Dois terços do ganho será do PanAmericano e o restante do Bradesco. Em nota divulgada, o presidente do grupo Silvio Santos, Luiz Sebastião Sandoval, lembrou que as relações com o Bradesco são antigas. Palladino aproveitou para negar qualquer intenção de venda do banco. "O patrão não gosta de vender nada", disse.