Título: Para Mendonça de Barros, câmbio estimula reconfiguração da indústria
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2007, Brasil, p. A5

Apenas nos últimos 45 dias, dez empresas brasileiras anunciaram a inauguração ou ampliação de unidades no exterior. Esse movimento de expansão da produção em outros países é a terceira fase do processo de reconfiguração da indústria brasileira, que começou em 2005 e vem avançando rapidamente, segundo avaliação do ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e hoje diretor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros.

Parte expressiva deste processo de mudança da estrutura industrial está relacionada à valorização do câmbio. Mas também a China, e mais recentemente o temor do aquecimento global, colocam outros desafios para a indústria, diz Mendonça de Barros.

As duas outras fases (foco na exportação e internacionalização do departamento de suprimento com aumento das importações de insumos e matérias-primas) abriram espaço para esta terceira etapa. Entre as dez empresas, Mendonça de Barros destaca Tigre, Sabó, Gerdau, Votorantim, Lupactec, Metalfrio.

Além dessa alternativa, o consultor acredita que a pauta brasileira caminha para uma "commoditização", mas isso não é necessariamente ruim, porque é possível agregar muito valor a partir das commodities. "O câmbio valorizado desfez a nuvem que escondia nossas ineficiências", argumenta Mendonça de Barros. Ele diz que o mercado interno forte está compensando muitos setores, mas no longo prazo as perdas na exportação vão ser sentidas. A expectativa é que o país tenha uma indústria exportadora mais baseada em commodities e em casos de sucesso, como o da Embraer.

As soluções para o câmbio, explica, são de longo prazo e passam por uma queda mais acentuada da taxa básica de juros (ele espera duas reduções seguidas da taxa Selic de 0,5 ponto cada uma nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), por um freio na expansão dos gastos públicos e por ações que melhorem itens que afetam a competitividade da indústria, como custos de energia elétrica, água e outros serviços.

Adoção de tarifas de importação, diz ele, podem ter resultado de curto prazo, mas não melhoram a eficiência da indústria. Ele também considera que medidas de controle do fluxo de capitais não são recomendáveis e tampouco teriam resultado, dado que a valorização do real está relacionada à balança comercial e não ao fluxo de capitais de curto prazo. (DN)