Título: Chile corre o risco de falta de energia já em 2008
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Fonte: Valor Econômico, 18/05/2007, Internacional, p. A10

Por boa parte das duas últimas décadas, a economia do Chile foi a mais bem-sucedida da América Latina. Ela tem, contudo, um calcanhar-de-aquiles: a energia. Além de algum carvão e de energia hidrelétrica abundante, o Chile quase não possui fontes de energia convencionais, e seus vizinhos não mostram ser fornecedores confiáveis. O resultado é que, a menos que o inverno seja chuvoso, até o próximo ano o país poderá enfrentar escassez de energia.

Há uma década, os chilenos acreditaram que haviam achado a solução: importar gás natural da Argentina. Na esteira da desvalorização, em 2002, o governo argentino impôs controles de preços sobre os fornecedores de gás. A demanda disparou, a oferta caiu e dois anos depois o país cortou as exportações para o Chile. Logo depois vieram custos adicionais.

Segundo Marcelo Tokman, ministro da Energia do Chile, a Argentina prometeu manter as exportações em um nível suficiente para cobrir o uso residencial de gás natural nas principais cidades chilenas. Se não cumprir a promessa, os moradores poderão enfrentar duchas frias. E os planos para a construção de uma terceira planta de propano em Santiago correm o risco de ser suspensos devido a objeções de planejamento.

Não há tal promessa para usuários industriais e para o setor de eletricidade. O que mais preocupa as autoridades é o que poderá acontecer em 2008 se a Argentina fizer mais cortes nas exportações de gás e se a falta de chuva reduzir a produção hidrelétrica. O governo está facilitando a instalação de geradores à diesel de pequeno porte como medida paliativa.

Parte dos temores deverá diminuir até 2009, quando um terminal para a importação de gás natural liquefeito (GNL) deve ser ativado. Mas esta pode não ser a resposta para os 7 mil MW de nova capacidade de geração que o Chile precisa para manter o ritmo estimado do crescimento da demanda na próxima década.

Aos preços atuais de GNL, as novas plantas de gás só darão lucro se integrarem um projeto de geração conjunta que também possa vender energia a um cliente industrial, disse Bernardo Larraín, da geradora de energia elétrica Colbún.

A Bolívia tem gás natural em abundância, que seria especialmente útil para as grandes minas de cobre do norte do Chile. Mas os bolivianos ainda se ressentem da perda do seu litoral numa guerra do século XIX. E o governo se recusa a cogitar a exportar gás para o Chile. Por isso, os administradores das minas, cujos custos de energia aumentaram em até 50% em dois anos, estão estudando a construção de usinas termelétricas.

Especialistas dizem que a única forma de suprir a demanda futura é mais investimento em hidrelétricas. A Colbún constrói quatro hidrelétricas na região de Aysén, sul do país, onde as chuvas são abundantes. Mas Aysén é uma região ainda intocada de fiordes e florestas. E os ambientalistas estão se mobilizando contra o projeto.

"Não podemos nos permitir descartar isso sem ter alternativas", disse Tokman. Os custos crescentes de energia eliminaram pelo menos 0,2 ponto percentual do crescimento econômico no ano passado, segundo o Banco Central. Em breve, o Chile precisará enfrentar um dilema entre a promoção do crescimento econômico e a proteção do meio ambiente.