Título: Consumidores já pagam juro maior
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/12/2010, Economia, p. 11

CONJUNTURA Taxas do crédito pessoal tiveram alta de 1,2 ponto percentual nos primeiros sete dias úteis de dezembro, chegando a 43,2% ao ano, em média

O consumidor que pretende pegar um empréstimo no início do ano para acertar contas pendentes ou mesmo para pagar as despesas extras relacionadas a impostos, matrícula e material escolar pode se preparar para arcar com taxas mais altas no crédito pessoal. Dados do Banco Central (BC) mostram que, nos primeiros sete dias úteis de dezembro, a taxa de juros já subiu 1,2 ponto percentual, passando para 43,2% ao ano, fruto das medidas tomadas no início do mês, de elevação do compulsório e de exigência de mais capital para os empréstimos com prazo superior a 24 meses.

Situação completamente diferente vive o consumidor que pegou um financiamento em novembro. A taxa de juros para as pessoas físicas, de 39,1% ao ano, é a menor da série histórica que começa em julho de 1994. Outra vantagem para os clientes é que os prazos para pagamento registrados em novembro são os maiores em 16 anos. Nada menos que 551 dias. Com encargos em baixa e mais tempo, a inadimplência das famílias deu um pequeno recuo, caindo de 6% do estoque das operações contratadas até outubro para 5,9%, índice mais baixo desde dezembro de 2001.

O chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Altamir Lopes, atribuiu a queda da taxa de juros em novembro ao aumento das operações do crédito consignado. ¿Em outubro, por causa da greve dos bancários, as famílias tiveram que se financiar nas modalidades mais altas disponíveis. Já em novembro, com a situação voltando ao normal, cresceu a demanda pelo crédito consignado, que é basicamente um financiamento concedido no balcão da instituição financeira¿, disse Lopes.

Já o alongamento do prazo, segundo Lopes, foi provocado pelas operações de financiamento de veículos e da casa própria. Com as medidas tomadas pelo BC, o crédito para a compra de carros de período superior a 24 meses deverá refluir, ao mesmo tempo que é esperado uma alta dos juros. Os empréstimos para a casa própria ficaram de fora das medidas restritivas e, por isso, devem continuar em expansão. Embora a base seja baixa, o crédito habitacional é o que mais cresce na estatística divulgada pelo BC. Em novembro, esse tipo de crédito atingiu R$ 133,5 bilhões, com elevação de 53,9% em 12 meses.

O cheque especial está na contramão da queda dos juros. Quem se financiou com esse crédito de curto prazo no mês está pagando 169,4% ao ano. A alta, com relação ao mês anterior, foi de 5,8 pontos percentuais, uma variação recorde. Já em dezembro, na coleta feita pelo BC até o dia 9 (sete dias úteis), a taxa de juros do cheque recuou 4,6 pontos percentuais para 164,7% ao ano. A queda, para o BC, pode ser uma consequência da quitação de operações. Afinal, os trabalhadores receberam o 13º salário e é de se esperar que tenham usado parte do dinheiro extra para o pagamento de dívidas.

Para o chefe do Depec, os dados parciais de dezembro não são suficientes para apontar uma tendência para o mês. ¿O período disponível é ainda muito pequeno¿, alegou. Mesmo assim, ele admitiu que as operações contratadas no mês já sofrerão o impacto das medidas restritivas anunciadas. A curva de juros futuros é ascendente, condicionada pela expectativa de alta no início do próximo ano.

Em 2011, o BC espera que a expansão do crédito para o financiamento de veículos se dê num ritmo bem menos aquecido do que o de 2010. Até novembro, o volume de crédito destinado a essas operações cresceu 44,8%, batendo em R$ 136,3 bilhões. Isso sem contar as operações de leasing, que somam R$ 47,8 bilhões. Com mais exigência de capital para bancar as operações de empréstimo com prazo superior a 24 meses, a tendência é de subida das taxas. Os juros nas operações de veículos, que estava mem 22,8% ao ano em novembro, passaram para 23% ao ano no dado parcial de 9 de dezembro.