Título: Preço do barril de petróleo rompe os US$ 70 em Londres
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2007, Empresas, p. B8

O preço do barril de petróleo no mercado internacional rompeu a barreira dos US$ 70 e alcançou a sua maior cotação desde 28 de agosto de 2006. O temor de que aconteça alguma interrupção por parte de grandes fornecedores, como Irã e Nigéria, alimentou a alta de ontem.

Apesar da marca recorde, o preço do barril de petróleo somente ultrapassou os US$ 70 na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres. Isso, porque o pregão britânico é mais sensível às oscilações de abastecimento dos grandes países produtores do Oriente Médio, onde estão as principais reservas do produto, do que a Bolsa Mercantil de Nova York, que sente mais as decisões das grandes refinarias instaladas no Golfo do México.

Em Londres, a commodity do tipo Brent para julho deste ano foi vendida a US$ 70,27, alta de US$ 2,30. Já na bolsa americana, onde se comercializa o produto do tipo WTI, o petróleo para junho de 2007 foi negociado a US$ 64,86, o que significou um acréscimo de US$ 2,31.

"Os estoques de gasolina já começaram a ser consumidos nos Estados Unidos, com a proximidade do verão no Hemisfério Norte. Portanto, nos próximos dois meses, teremos um viés de alta para o preço do petróleo tanto em Nova York, como em Londres", afirma Lucas Brendler, analista de Investimentos da Geração Futuro Corretora.

O fato é que poucas vezes na história das cotações do petróleo houve tamanha diferença entre o valor praticado para o WTI e para o Brent, sendo que o produto americano sempre teve um preço US$ 2 superior ao de Londres. Atualmente, a diferença entre os dois tipos do produto é de US$ 5,41 a favor do Brent.

-------------------------------------------------------------------------------- Produto sobe US$ 2,31 na Bolsa Mercantil de Nova York e alcança os US$ 64,86, maior preço desde 30 de abril --------------------------------------------------------------------------------

Essa diferença de valores atual começou a se acentuar alguns meses atrás, quando um grupo de soldados britânicos foi capturado pelo Irã. E como de lá para cá não surgiram fatores que promovessem uma aproximação dos valores, as cotações mantiveram-se sempre distantes.

No entanto, a diferença tem aumentado porque o tipo Brent costuma refletir mais intensamente problemas em países como a Nigéria. Nos últimos dias, por exemplo, manifestantes nigerianos interromperam algumas vias de escoamento da commodity, impedindo a exportação do produto. Já o tipo WTI está atrelado à situação das refinarias instaladas no Golfo do México.

"O petróleo WTI também está em um preço menor porque tem refletido muito mais a relação entre oferta e demanda ao invés de movimentos especulativos", afirma Luiz Otávio Broad, analista da Ágora Corretora. Quando há algum fenômeno natural naquela região, como por exemplo um furacão, o preço do produto na bolsa americana costuma disparar, mas isso pouco afeta o Brent.

Apesar de estar sendo negociado a valores próximos dos US$ 65, o barril tipo WTI também se valorizou ontem. E a razão da alta de US$ 2,31 foi motivada justamente pela especulação de que os suprimentos de gasolina não estão adequados à demanda do verão. As reservas desse destilado estão 7,5% menor que o montante registrado cinco anos atrás, segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos.

"O sistema de refinarias americana é velho e antiquado. Muitos dos fundos esperam que o sistema possa parar constantemente neste verão", afirma Nauman Barakat, vice-presidente sênior da Macquarie Futures USA Inc.

A julgar pelos últimos acontecimentos, Barak tem alguma razão. Isso, porque a Valero Energy, a maior refinaria dos Estados Unidos, informou que problemas nos processos de produção interromperam sua refinaria em Houston, que produz 130 mil barris por dia. Já a ConocoPhillips, a segunda maior refinaria americana, também disse que sua operação no Texas está em manutenção. Além disso, outra unidade também no Texas apresentou dificuldades em uma das fases de extração.

Nem a recente subida das reservas de gasolina serviu para aplacar o temor de que haverá uma demanda maior que a oferta. De acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, os estoques desse destilado subiram 1,76 milhão de barris no fechamento da semana passada.

"É um efeito sazonal", afirma Lucas Brendler. "Mas que atinge também os demais combustíveis leves, como querosene de aviação e também óleo diesel", completa o analista. (Com agências internacionais)