Título: Microusinas inauguram novo modelo no RS
Autor: Calderazzo, Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2007, Caderno Especial, p. F3

No começo deste mês, a Petrobras inaugurou em Redentora (RS), a primeira microusina de álcool a ser criada no Estado, em parceria com os agricultores familiares integrados à Cooperbio. Com investimento total de R$ 4 milhões, dos quais R$ 2,3 milhões da Petrobras, o projeto, criado pela estatal, envolve dez microusinas, que terão capacidade para produzir até 5 mil litros diários de etanol, e uma retificadora, cuja construção será concluída em julho e que converterá o álcool aos padrões exigidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O projeto entra em funcionamento no segundo semestre, e a estatal comprará todo o etanol produzido.

Participarão 175 agricultores, de dez municípios, que vão ocupar com cana-de-açúcar uma área total de 400 hectares. Ao lado da cana-de-açúcar, também haverá culturas de milho e feijão. Além disso, os agricultores utilizarão os subprodutos da cana, tais como folha, bagaço e palha, como adubo natural, alimento para o gado de corte e leiteiro e até na cogeração de energia elétrica oriunda da biomassa.

"O projeto é um novo modelo na produção de etanol, pois não se baseia na monocultura e na concentração da terra e da riqueza", diz o diretor de gás e energia da Petrobras, Ildo Sauer. Segundo ele, a empresa pretende implementar o projeto em outros Estados.

Envolvida no mercado de biodiesel, a Petrobras também prevê que, a partir de julho, todo o óleo diesel vendido tanto nos cinco mil postos com a bandeira da BR Distribuidora quanto nos 3.350 mil grandes clientes da empresa já contem com 2% de biodiesel em sua composição, o B2 (o B é de "blend" - mistura, em inglês)

A empresa investiu R$ 35 milhões na infra-estrutura operacional e em logística para atingir a meta, antecipando-se à ANP, cuja legislação determina a obrigatoriedade dessa adição apenas em 2008. Hoje, a Petrobras não produz biodiesel, apenas compra o combustível das indústrias, adiciona-o ao próprio diesel ou vende-o às distribuidoras autorizadas pela ANP. Além disso, formou parceria com a Cooperbio para produzir biodiesel no RS. Em 2011, todo o diesel terá de contar com a adição de 5% de biodiesel. Tudo indica que essa meta também será antecipada, pois hoje, com autorização da ANP, alguns grandes clientes da Petrobras já compram da empresa diesel com 5% (B5), 20% (B20) e 30% (B30) de mistura de biodiesel.

Valorizado pela utilização cada vez mais ampla na matriz energética brasileira e por ser o combustível fóssil menos poluente, o gás natural também intensifica a participação no mercado interno, ao lado dos combustíveis renováveis. O consumo do produto registra crescimento médio de 17% ao ano, segundo a Petrobras. Para atender à demanda crescente pelo insumo/combustível e reduzir a dependência do país em relação ao gás importado da Bolívia, a estatal antecipou os projetos de produção do hidrocarboneto, alterando um deles, o Plangás, todos presentes no plano estratégico da empresa e, desde o começo do ano, integrados ao PAC pelo governo federal.

Com investimentos previstos de R$ 25 bilhões, o objetivo do Plangás é aumentar a oferta de gás interno dos atuais 25 milhões de metros cúbicos por dia para 55 milhões de metros cúbicos, até 2008. Em 2011, quando todos os projetos relacionados ao gás da empresa estiverem concluídos, incluindo os 30 milhões de metros cúbicos por dia previstos para virem da Bolívia, a estatal prevê que ofertará ao mercado interno um total de 120 milhões de metros cúbicos por dia do produto.

Em 2006, a média de consumo trimestral de gás natural variou entre 48 milhões de metros cúbicos/dia e 52 milhões de metros cúbicos/dia, dos quais 24 milhões foram importados da Bolívia. Desse total, no período, a empresa utilizou uma média de 6 milhões de m³/dia a 8 milhões/m³ dia.

Em 2005, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), no Brasil, a indústria utilizou 58% do gás natural do mercado, as termelétricas tiveram à disposição 26% do produto, os veículos absorveram 13% de Gás Natural Veicular (GNV), as residências usaram 2% do combustível, e o comércio, 1%. De acordo com a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), do Governo Federal, o gás natural terá participação crescente na matriz energética interna, até 2030.

Para acelerar o fornecimento de gás natural, a Petrobras mudou, em 2006, o Plangás elaborado em 2005. Decidiu abastecer de gás natural os mercados do RJ e SP com a produção marítima oriunda da Bacia do Espírito Santo (BES), e não mais, até 2009, por meio da Bacia de Santos (BS), especificamente por meio do campo de Mexilhão. Pelo planejamento anterior, a BES supriria a demanda do Nordeste, e a BS, a do Sudeste. A plataforma a ser utilizada em Mexilhão terá mais de 300 metros de altura, e os dois únicos navios no mundo com capacidade para transportá-la somente poderão entrar em operação no fim de 2008. Por isso, a estratégia de fornecimento precisou ser mudada.