Título: Até 2013, metade da frota nacional será flex
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2007, Caderno Especial, p. F5

Principais impulsionadores do aumento do consumo de álcool no país, os automóveis com tecnologia flex-fuel (gasolina-álcool), definitivamente, vieram para ficar no mercado brasileiro, mas ainda têm um futuro incerto no plano internacional. No Brasil, segundo o balanço da Anfavea relativo ao mês de abril, 82,1% dos automóveis e comerciais leves vendidos no país, exatamente 528.466 unidades, foram do tipo flex fuel. As vendas acumuladas de flex evoluíram de 48,2 mil unidades em 2003, quando foram lançados, para 376,6 mil em 2004, 1,2 milhão em 2005, chegando a 1,4 milhão de veículos em 2006. "Em quatro anos foram produzidos 3,6 milhões de veículos flex-fuel, e esse ritmo deve se manter nos próximos anos", comenta Henry Joseph Júnior, presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea, que trata de questões ligadas aos combustíveis alternativos e poluição.

Gerente do laboratório de testes de motores e ignição da Volkswagen, Joseph Júnior participou do desenvolvimento da tecnologia flex-fuel em 2003, quando a fabricante alemã lançou seu primeiro veículo com a nova tecnologia, denominada de Total Flex pela empresa, assegurando o abastecimento do carro tanto com gasolina como com álcool. "A Volks saiu na frente e ficou bem na foto. Hoje, 100% dos veículos da montadora utilizam tecnologia flex", diz ele.

Trata-se de um conceito vencedor, segundo Joseph Júnior. "No início, as montadoras tinham certo temor de que esse novo conceito de injeção e gerenciamento de combustíveis não fosse bem recebido pelos usuários, por conta das experiências passadas, do tempo do Proalcool, como problemas de desabastecimento e preços instáveis. Mas foi um lançamento feliz e hoje oito montadoras já o utilizam. São mais de 65 modelos comercializados", conta ele.

Rogélio Golfarb, diretor da Ford e ex-presidente da Anfavea (substituído por Jackson Scheider, em abril), diz que os veículos flex mostram o vigor da engenharia e da tecnologia automotivas no Brasil e representam a viabilização de toda uma cadeia econômica, que vai desde a base agrícola de produção de cana-de-açúcar, à produção de álcool combustível, ao setor de equipamentos para usinas e aos veículos flex para o mercado consumidor. Segundo Golfarb, hoje 12% de toda a frota nacional já é flex-fuel, mas a tendência é que até 2013 esse número salte para 52%. Quando foram lançados em 2003 os modelos que permitem o uso dos dois combustíveis não chegavam nem a 3% no total das vendas.

O flex surgiu no mercado americano no início dos anos 80 e tinha o suporte tecnológico dos principais fornecedores de sistemas de injeção eletrônica, como Bosch, Delphi e Siemens. Trata-se de uma tecnologia baseada em sensores de combustíveis do tanque para o motor, que enviam informações ao computador de bordo do veículo para os necessários ajustes de consumo. Originalmente, segundo Joseph Junior, era uma tecnologia muito cara. "Mas o apelo do carro a álcool estava ligado a um baixo custo e isso favoreceu o desenvolvimento no Brasil de uma tecnologia flex que não precisasse usar sensores de combustíveis".

Quer dizer, os investimentos nessa tecnologia de gerenciamento de motor até que não são pesados, de acordo com o gerente da Volks. "Talvez, apenas os fabricantes que chegaram mais recentemente ao país, como Renault, Peugeot, Citroen e Honda, que não têm um histórico de produção de carro a álcool, como outras montadoras, precisem fazer investimentos maiores", diz.

No entanto, avalia o executivo, apesar de se tornarem referência mundial entre os programas de combustíveis alternativos aos dos derivados de petróleo, a curto prazo, não deverá haver exportação de carros flex-fuel. Não é só porque o domínio da tecnologia não pertence ao Brasil, em se tratando de montadoras multinacionais. Mas é que é uma tecnologia que depende, fundamentalmente, que o país disponha de álcool para sua utilização.

"Os Estados Unidos são um dos países onde a questão do etanol ganha força, mas produz etanol a partir do milho. Na Europa, apenas a Suécia tem um programa forte de adoção de álcool em seus veículos. Parte da frota de carros do governo já utiliza tecnologia flex. E na América Latina, somente Colômbia e Uruguai têm programas de mistura de álcool e gasolina, em percentuais ainda muito pequenos, em torno de 5 a 10%. A Venezuela alardeia muito, mas não tem programas específicos", diz.

Para o ex-presidente da Anfavea, Golfarb, no entanto, essa é uma oportunidade que o Brasil não pode desperdiçar. "É a hora de investir em pesquisas, em produção, porque grandes investidores e grandes economias já estão fazendo isso. Se o Brasil conseguir ser competitivo nessa área, será bom para a economia como um todo e também, é claro, para o nosso setor", afirma. (G.C.)